A vida de Renato, contada quase diariamente por seu biógrafo favorito

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Aula de moto (01/10/2015)

Na noite anterior, Renato rolou na cama até ser vencido pelo cansaço e apagou em um sono sem sonhos. Lembrou-se, um pouco antes, de pedir a Andressa que lhe desse carona pela manhã, já que seu apartamento ficava no caminho dela.

Pontualmente atrasada, como de praxe, ela apareceu de moto no portão do condomínio e entregou ao rapaz um capacete. Ele já havia andado de moto anteriormente, sempre de carona, e a sensação não era nem um pouco atraente. Em outras palavras, o que ele faz é se agarrar aos apoios da moto e não largar por nada, chegando a ficar com os dedos doloridos ao chegar no destino.

No caminho curto, Andressa aproveitou para fazer piada com o medo de Renato e falou: "Até entendo seu medo de andar de moto! Você só andou aí atrás! O dia em que você pilotar vai ver como é tranquilo!". Sem raciocinar muito na frase com que respondeu, ele emendou: "O dia em que você me ensinar a pilotar, quem sabe eu perca o medo!". E a tréplica ouvida foi: "Vamos hoje, depois do trabalho, então!".

"Ideia idiota! Ideia idiota!". Somente essas duas palavras se repetiam na cabeça dele quando saiu do escritório e foi novamente de carona com Andressa até a área de treinamento. Ela os guiou até um bairro novo da cidade, bastante pacato, e parou em um quarteirão onde apenas uma casa havia sido construída.

A "aula" teórica foi bastante sucinta. "Aqui acelera, aqui freia, a troca de marcha é no pé; gira o acelerador devagar e vai, tipo bicicleta". Em menos de três minutos, a moça já acreditava ter passado todas as instruções para Renato.

Montado ali, sozinho e tremendo, ele respirou fundo e foi. Desta vez, o medo não o acompanhou na garupa.

Renato não seria capaz de, naquele instante, dizer o que se passava com ele. Mas, se fosse preciso, acho que o mais apropriado seria êxtase. Apesar do vento no rosto através da viseira aberta do capacete, ele não conseguia respirar direito. Os pulmões permaneciam cheios, repletos, plenos. Os olhos não piscavam, apesar de não haver nada de interessante para ser visto adiante. A boca se abriu instintivamente e, para voltar a ter o ar circulando, ele gritou de alegria.

Andressa, sentada na calçada e observando com curiosidade a cena, corou ao ver a quantidade de palavrões que o rapaz era capaz de berrar entre onomatopeias de júbilo. Ela presenciou uma pessoa conhecendo uma das face da liberdade, algo que ela mesma já havia sentido mas não fora capaz de traduzir em palavras para ele quando disse que guiar era diferente de ir atrás. Com as mãos no guidão, você é o pássaro que deixa a gaiola e não olha para trás.

Depois de umas cinco ou seis voltas no quarteirão, ele parou onde sua amiga estava sentada. Tagarelava incessantemente, drogado pela injeção de velocidade em duas rodas, e arrancava gargalhadas dela com a metralhadora de frases sem sentido ou sem noção que dizia. Em meio à confusão linguística, eles acabaram combinando de irem embora para o apartamento de Renato para conversar e passar o tempo.

Há de se registrar que "conversar" não é o verbo mais apropriado, já que ele continuou no semi-monólogo que começou assim que o test-drive terminou; ela ouvindo pacientemente, demonstrando interesse no que ele dizia e felicidade por estar ali. Por uma dezena de minutos apoiou a cabeça mais uma vez sobre a coxa de Andressa, como na praça ontem. A dinâmica já estabelecida entre os dois fez com que não demorasse até ambos estarem deitados lado a lado, e a troca de carinhos logo virou troca de carícias. Fizeram um sexo animado, vigoroso, condizente com a energia que fluía pelo corpo de Renato por ter vivido aquele dia.

Ela foi embora pouco tempo depois, sabendo que não o veria pelas próximas duas semanas, pelo menos. Ele dormiu antes de ter se dado conta disso.