A vida de Renato, contada quase diariamente por seu biógrafo favorito

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

De volta para casa (15/10/2015)

O despertador até tocou mais tarde que nos últimos dias, mas esse não foi o motivo principal de Renato ter pulado da cama sem apertar a função "soneca" do celular. Era dia de ir embora, de voltar pra casa, de ver novamente sua família, de abraçar Alice, de respirar Brasil!

Tratou de botar uma playlist de músicas eletrônicas empolgantes e começou a arrumação da mala. Separou o que vestir e o resto foi dobrado e colocado na bagagem. Tomou um banho, colocou a roupa confortável reservada, conferiu o quarto uma última vez e desceu para o lobby três minutos antes do meio-dia, horário combinado de se encontrarem para partir. Os companheiros de viagem ainda demoraram quinze eternos minutos para aparecerem prontos ali. Check-out realizado, táxi na porta, era hora de partir.

Como tudo relacionado a segurança em Israel, a ida ao aeroporto era um pouco burocrática. Nos arredores, um agente de segurança parou o veículo e coletou os passaportes, fazendo perguntas como "Qual o seu nome?", "Para onde estão indo?", "Quanto tempo ficaram aqui?", "Qual o seu nome mesmo?". Liberados, os três rumaram até a entrada do terminal internacional e outro agente de segurança pediu os passaportes. Se você adivinhar as perguntas que foram feitas, é um gênio.

A fila para despacho de bagagens já estava formada e parecia maior que o de costume para apenas um voo, que partiria dali três horas. Não demorou muito para que o trio descobrisse que MAIS UMA ETAPA de verificação de segurança se passaria ali, e na vez deles, quase uma hora depois, é que perceberam que era a mais rígida até então. Além das perguntas de praxe, vieram coisas como "Em que hotel vocês ficaram?", "Qual a relação entre os três?", "Por que a mala dele [apontou para José] é maior que a de vocês?", "O que vieram fazer em Israel?" e um momento em que o agente pegou os passaportes e sumiu, deixando-os lá plantados e com cara de perdidos.

Quando voltou, o policial devolveu a documentação e liberou todos para seguirem. Não deu satisfação do que fora fazer, nem eles quiseram perguntar. Despacharam a bagagem e receberam o cartão de embarque, em que Renato notou algo curioso: o horário de embarque era meia hora mais tarde do que o horário previsto inicialmente para a decolagem. O voo estava atrasado.

Como ninguém tinha almoçado ali, eles se sentaram para comer e passaram a discutir as possibilidades. Dado o voo de conexão em Munique que deveriam pegar, era real a chance de que não chegassem lá a tempo e ficassem 24 horas na Alemanha. A notícia alegrou José, que via o lado turístico da coisa, e Mateus, que vislumbrava a oportunidade de encontrar a filha que estudava lá há seis meses. O viés de Renato, contudo, era o da saudade. E sob esse prisma, a torneira do desespero começava a pingar suas primeiras gotas na bacia da paciência.

Há quinze minutos do embarque, o rapaz foi se informar no balcão da Lufthansa sobre os atrasos, já que tinha observado no painel de voos que mais de um trajeto dessa companhia havia atrasado. Polidamente, mas seca como uma folha caída no chão do parque, a funcionária informou que não tinha nada que pudesse fazer e que eu deveria torcer para que me esperassem lá. Torcer... Ok! Renato queria é torcer o pescoço da criatura, mesmo que ela não fosse culpada, só para aliviar a raiva acometida pela falta de empatia da moça com ele.

Embarcado e ansioso, ele não conseguiu fechar o olho nas pouco mais de três horas que ligavam Tel Aviv e Munique. Leu o que pôde, ouviu música, batucou, jogou no iPad, foi ao banheiro, tudo o que fizesse o tempo psicológico correr mais rápido. Depois da aterrissagem, literalmente correu pelos corredores do aeroporto (trocadilho inevitável), passou pelos detectores de metal, enfrentou esteiras e venceu o batimento cardíaco que ameaçava explodir.

No fatídico portão H48, que ele jurava ser do outro lado do terminal, dado o tanto que havia atravessado, viu que seu voo para casa estava lá a esperá-lo. Quis chorar de emoção o garoto, ao sentir o cheiro de feijão inventado pela sua cabeça para celebrar a certeza de que em 12 horas estaria em casa. Além de relaxar os olhos, relaxou a bexiga e sentiu uma vontade louca de ir ao banheiro. Relaxou o estômago e viu que uma fome excruciante agredia sua barriga. Relaxou o corpo e sentiu um sono tremendo. Mas nada disso importava de fato, a não ser a alegria de encontrar seu lar.