A vida de Renato, contada quase diariamente por seu biógrafo favorito

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Galileia (09/10/2015)

Renato levantou-se sem vontade. Preferiria dormir a passear por Israel, preconceituoso com as companhias e com o turismo religioso. Depois de pronto, desceu e tomou seu café da manhã enquanto se preparava psicologicamente para ser uma pessoa agradável durante a viagem do dia.

O destino fora decidido na tarde anterior, em contato com o guia. Sérgio, uruguaio que mora em Jerusalém há quase 10 anos, sugeriu que a excursão fosse feita na ordem cronológica dos acontecimentos. Começariam pela Galileia naquele dia, onde Jesus deu seus primeiros passos como pregador, e no dia seguinte iriam para Jerusalém, onde ele encontrou seu fim pelas mãos dos judeus e romanos que ali comandavam. Na casa de seus 50 anos, ele falava um portunhol plenamente compreensível para o trio, com o que se apresentou e detalhou o roteiro do dia.

Do lobby do hotel, os quatro foram até uma locadora de carro e saíram motorizados rumo ao norte. As histórias que Sérgio tinha para contar começaram assim que saíram de Tel Aviv, mas o sacolejo do carro e a aptidão natural de Renato para dormir em veículos falaram mais alto e ele se rendeu. Quando acordou, já estavam estacionando em Nazaré, cidade em que Jesus cresceu.

Ainda com a meta de ser cronológico, Sérgio os encaminhou à primeira igreja, a da Anunciação. Acredita-se que ali Maria recebeu o anjo Gabriel, que lhe contou que ela esperaria o Filho de Deus, conforme a Bíblia narra. A simplicidade da gruta apontada como o local de fato da aparição do anjo contrastava magistralmente com a imponência da igreja, esta com dois andares, um pé direito bastante alto no piso inferior sem bancos ou cadeiras e com o arranjo para as celebrações cristãs no piso superior.

Enquanto José e Mateus faziam suas preces e admirações cristãs, que incluía uma fila enorme para se aproximar da dita gruta, Renato aproveitou para fotografar. E foi assim durante toda a peregrinação pela cidade.

Os três satisfeitos, seguiram para a Igreja da Sagrada Família, construída sobre onde se afirma que Jesus e seus pais viveram até aquele sair aos 30 anos pela região para espalhar a Palavra. Mais uma vez, o rústico do chão de cavernas era exposto ao suntuoso templo que o cobria. Um explicava, outro tirava fotos, dois oravam.

O que não é o turismo senão houver souvenires, não é mesmo? Da igreja, Sérgio os levou até uma loja de lembranças das mais diversas, onde os dois mais abonados deixaram 150 dólares cada um, entre terços, chaveiros, taças, fitas, óleos bentos e outros apetrechos. Findas as compras, pegaram o carro e foram conhecer o rio de batismo do Messias.

Contando histórias durante todo o percurso, o guia fez passar rápido o tempo entre Nazaré e o ponto de visitação do Rio Jordão. Este ponto nada mais era que uma estrutura bem montada para receber os fiéis e lhes dar um espaço para entrar no mesmo rio que seu Salvador. Coerentemente explicado por Sérgio, não há registros nem possibilidade de se saber em que parte do rio João Batista batizou Jesus; ali era mais uma representação da situação do que um marco geográfico. Isso não diminuiu em nada o ímpeto de Mateus e José trocarem de roupa e entrarem nas águas límpidas do curso d'água. Enquanto isso, Renato esmerava-se em conseguir bons cenários e boas poses espontâneas.

Pouco depois do meio-dia, com os cristãos do grupo sorrindo de orelha a orelha, eles se dirigiram dali para Cafarnaum, local à beira do Mar da Galileia (que é um lago bastante grande, na verdade) em que Jesus arregimentou seus principais seguidores, os 12 apóstolos. Na verdade, foram conhecer as ruínas da cidade, já que hoje não há mais nada lá. Sérgio explanou e eles puderam ver em seguida o que se crê ser a primeira igreja cristã, além de ruínas de pilares e degraus onde outrora houve casas e escadarias. No pátio principal do vilarejo, uma estátua magnífica de Pedro em bronze destacava-se e era clicada por todos os visitantes, inclusive nosso protagonista.

Encerrados os pontos turísticos cristãos do norte, os quatro foram almoçar e voltaram para o hotel por quase duas horas de estrada. Já na segurança das vias de Tel Aviv, Sérgio os informou que um atentado havia ocorrido em Jerusalém poucas horas atrás, pelo que toda cautela seria pouco no dia seguinte na Cidade Santa. Inclusive contou que procurou se desviar de rodovias que beiravam municípios árabes porque a população local jogava pedras nos carros que passavam em sinal de protesto.

Deitado em sua cama no hotel, conversando por mensagem de celular com sua família e com Alice, Renato percebeu o quanto teria perdido em termos de fotografias e histórias, duas paixões suas, se tivesse se mantido firme em não querer antecipar o voo. Ele não admitirá nunca, mas eu sei que ele ficou grato por ter sido arrastado mais cedo para Israel.