A vida de Renato, contada quase diariamente por seu biógrafo favorito

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Primeiro dia em Israel (08/10/2015)

Acordar não foi fácil. O corpo não sabia que horas eram lá fora, mas por dentro avisava que Renato deveria continuar de olhos fechados e relaxar. Tendo sido combinado com os demais viajantes que se encontrariam no restaurante para o café da manhã às 9 horas, eis que ele se levantou e, como um zumbi, se arrumou e desceu. Lembremos que ele estava sem sua mala: vestia jeans sem cueca, blusa de frio sem camiseta e tênis sem meia.

O hotel era bem honesto, simples no que oferecia e com tudo limpo e organizado. O desjejum, tipicamente do oriente médio, tinha coalhada seca, coalhada natural, salada (sim, tomate, folhas, berinjela, etc.), muitas frutas secas, alguns biscoitos e pães e uma área mais escondida, talvez com vergonha do sinal de saúde das demais comidas em exibição, em que havia ovos mexidos, salsicha ao molho e bacon.

Renato serviu-se bem dos pães, de coalhada, mel e arriscou um copo de leite e outro de chá. Pegou uma fatia de grapefruit (frutas cítricas eram servidas dessa forma), mas se arrependeu amargamente, no sentido mais literal possível da palavra. Sentado à mesma mesa que os colegas de trabalho, os três revisitaram em detalhes a loucura do dia anterior para entrar no país, cada um expondo o que achou que poderia acontecer e conjecturando os motivos de terem sido barrados na triagem inicial.

Dali, partiram para a rua para adquirir roupas para o jovem e para Mateus, que também estava com as vestimentas da véspera. Para saber um bom lugar para as compras, fizeram amizade com o atendente da recepção chamado Doron. Ele lhes recomendou um shopping próximo ao hotel e lá foi o trio em sua primeira saída independente em solo israelense.

Tiveram uma falha de comunicação com o taxista já na primeira ocasião, uma vez que este falava um inglês sofrível (se é que dá pra dizer que falava algo em inglês), e foram parar em algo como a 25 de março de Tel Aviv. Quando se deram conta do engano, o motorista já havia partido, tendo sido devidamente pago por eles. Consultaram o GPS do celular e foram a pé ao destino correto, a cinco quadras dali.

O shopping era confuso, pouco parecido com os do Brasil. Lembrava mais uma galeria, de lojas pequenas, vitrines simples, algumas até com avisos em cartolina (escritos em hebraico, pelo que era impossível compreender do que se tratava). Precisaram rodar por mais de uma hora para encontrar todas as peças de que necessitavam, tendo que ir aqui para comprar uma camiseta, ali para a calça, acolá para cuecas e meias; se antes estavam em frente à 25, Renato aqui se sentia no Brás em local coberto.

Finda a labuta para se vestir, passaram a procurar um local para comer. Um restaurante próximo à entrada principal servia frango assado naquelas máquinas popularmente conhecidas como "televisão de cachorro", a salvação dos almoços de domingo no Brasil quando a preguiça de preparar algo mais elaborado toma conta de todos. A semelhança com a comida de casa foi o motivo de terem escolhido lá e já anunciava a inconsciente saudade do lar.

Voltaram alimentados para o hotel, resolveram algumas questões do trabalho (eram 15:00 lá, mas 9:00 no Brasil, com o expediente apenas começando) e saíram para comer novamente à noite, à beira da praia. Antes disso, conseguiram um guia para levá-los a Galileia no dia seguinte, primeira excursão religiosa que o rapaz demonstrara pouco ou nenhum interesse antes de embarcarem. A empolgação de José e Mateus era proporcional à vontade de Renato de ter ficado no Brasil nesses primeiros dias. Restou-lhe ler deitado à noite na cama e dormir resignado com o roteiro do dia seguinte.