A vida de Renato, contada quase diariamente por seu biógrafo favorito

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Mulher taxista (06/11/2015)

O táxi parou em frente ao hotel em que Renato aguardava com sua mala na mão. Para sua surpresa, quem dirigia era uma mulher, situação pouco usual para ele. Provavelmente, situação pouco usual no mercado de trabalho de motoristas de táxis.

Ao contrário dos outros taxistas que costumam levá-lo para cima e para baixo, prontamente esta puxou assunto e o tratou com informalidade. Chamava-o pelo vocativo de "bem" e contou histórias pessoais até o destino. A intimidade assumida pela mulher era tanta que ela soltava palavrões como quem usa palavras do dia-a-dia e não teve problemas em falar do acidente do irmão, dos filhos da cunhada e até que estava fazendo regime para perder sete quilos. No aeroporto, Renato desceu do táxi mais leve e viajou sem nem se lembrar que ainda tinha um dia inteiro de trabalho pela frente.

Com todas as dificuldades de trânsito típicas de São Paulo em uma sexta-feira, o rapaz só chegou no escritório ao meio-dia. Pelo celular, combinou com Laura para almoçarem juntos e só subiu ao oitavo andar para deixar o notebook sobre sua mesa. Logo desceram e decidiram ir a uma feira de food truck para conhecê-la.

Na volta do almoço, depois de comer um delicioso hambúrguer de pastrami e maionese dijon, ficou vendo o tempo passar em frente a tela de seu computador, lendo sobre qualquer assunto que lhe interessasse, de política a comportamento. Saiu mais cedo que o horário usual, mas o escritório já estava praticamente vazio de qualquer forma.

Conforme tinha combinado com Alice, encontrou-a na frente de seu apartamento no centro e ambos foram ao shopping jantar. Ela pegou um prato de massa e ele uma costela com purê, pratos evidentemente desaconselhados para aquela hora da noite. Mesmo assim, encararam com seriedade o desafio e o cumpriram, carregando o ônus da mistura de moleza noturna com letargia pós-refeição.

Ainda se esforçaram para passar na padaria e comprar itens para o café da manhã do dia seguinte. Finalmente na casa de Renato, desabaram na cama e disputaram para ver quem dormia primeiro. Foi empate técnico com velocidade recorde.

Renato se vê em Carina (05/11/2015)

Acordar em hotel é traumático para Renato. Quando trabalhou em Mato Grosso, foram quatro meses morando em dois hotéis diferentes (um na capital, outro no interior) e quem diz que é mordomia, que adoraria, luxo, elite, etc. é porque nunca passou por isso. Assim, sempre que abre os olhos e vê que está em um estabelecimento desses, a primeira sensação é de tristeza. O usual é respirar fundo, partir para o banho com uma música animada e fazer o dia começar no tranco. Esta quinta não foi diferente.

Depois do café da manhã, um rapaz do escritório de Campo Grande foi buscá-lo e juntos seguiram para a empresa. Com três boas músicas em sequência tocando no rádio, o motorista notou a empolgação de Renato e comentou como se tivesse lido seus pensamentos: "É a trilha sonora do Guardiões da Galáxia! Muito massa!". O caronista anotou mentalmente a informação e se comprometeu a adicionar o álbum a sua coleção no Spotify.

O dia de trabalho em si foi de correria e muitas atividades. Não leu notícias, como é de costume, não acessou sua conta no banco pela internet, como é rotineiro, muito menos teve tempo de puxar papo com Andressa, como de praxe. Foi útil e produtivo, o que da mesma forma o faz se sentir bem.

Um momento relevante do dia, contudo, foi o almoço. Mais uma vez Renato saiu para comer com a equipe com quem trabalhava ali e com Ralf. Assim como no dia anterior, este foi simpático apesar da situação. Mas entre eles, a menina Carina se destacou. Ao ver Ralf falar ao celular enquanto dirigia ela protestou que era uma situação ilegal e perigosa. Deu ênfase para o ilegal! Vendo um fio solto e uma boa oportunidade de história para contar, Renato o puxou e provocou a moça a discorrer sobre o "ilegal".

Em resumo, Carina é a favor de seguir ferrenhamente as leis, inclusive aquelas de que discorda, "já que, se não concordamos, temos que buscar os meios legais e jurídicos para alterá-la". Renato sorriu e sentiu um misto de pena com alívio. Pena porque já foi assim na vida e viu o desconforto e os problemas que causou para si. Alívio por conseguir enxergar explicitamente que já superou essa fase e se sente ótimo "desrespeitando" a lei quando lhe convém, desde que dentro de sua própria ética. Apesar dos sentimentos por aquela garota de 23 anos que defendia ferrenhamente sua tese, não quis fazer nada para intervir na questão.

O fim do dia veio a cavalo e trouxe um cansaço mental extremo em sua bagagem. Nosso protagonista só quis ir para o hotel descansar, pedir uma boa comida japonesa, pôr suas leituras em dia e dormir. Nesse meio tempo, ainda arranjou um momento para papear um pouco com Alice, acertar detalhes do Ano Novo com Paloma e remarcar para a próxima semana o café com Nami.

domingo, 29 de novembro de 2015

Viagem para Campo Grande (04/11/2015)

O voo para Campo Grande era bastante cedo e Renato precisou acordar de madrugada. Tomou um banho em silêncio, para não acordar a namorada, arrumou-se e se despediu carinhosamente com um beijo na testa dela. Pegou um táxi e rumou para o aeroporto, dali para a capital do Mato Grosso do Sul.

Para além do que lhe era convencional, o rapaz acabou tendo assunto puxado por um vizinho de poltrona e decidiu ser gentil. Respondeu às perguntas feitas, questionou outras que fizessem o assunto render, tratou de assuntos pessoais e fez uma pequena amizade temporária no voo. Despediu-se do homem no desembarque desejando boa sorte, já que não pensou em nada melhor para dizer para alguém que não reencontrará intencionalmente nunca mais.

Fora esse pequeno acontecimento no dia, o restante do período foi de muito trabalho e pouco tempo pra pensar em qualquer outra coisa. Para não dizer que nada diferente aconteceu, cabe ressaltar que Ralf foi escalado pelo diretor da empresa para levar Renato para almoçar. Acontece que o rapaz sabe que nosso protagonista se envolveu com Andressa por um tempo e morre de ciúme dele. O que ele não sabe é que a moça contou para Renato da pequena dor de cotovelo de Ralf e o primeiro se divertiu com a coincidência que a vida às vezes proporciona para alegrar pequenos instantes do dia.

Depois de se dedicar até as nove da noite, Renato foi pro hotel descansar e comer algo. Pediu uma comida "chinesa" em um fast-food e ganhou uma bomba calórica altamente engordurada de refeição. Na falta de opção, comeu-a assim mesmo e foi dormir com o tijolo em seu estômago a lhe impedir virar na cama

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Ao menos há Alice antes de viajar (03/11/2015)

Se o mês de outubro carregou Renato mundo a fora, o mês de novembro o fará rodar o Brasil. Para este período estão reservadas duas viagens a trabalho, uma para Campo Grande e outra para Cabo Frio. A primeira será amanhã cedo. O rapaz já está um pouco cansado de viajar pela empresa, mas em tempos de crise é difícil se negar a fazer algo que paga seu bom salário pontualmente. Pensando pelo lado positivo, ao menos haverá a companhia da namorada para alegrá-lo hoje.

Renato tinha ficado com preguiça de ir para sua casa na noite do dia anterior e decidiu dormir na casa de Alice mesmo. Vítor, melhor amigo de nosso protagonista, também fez o mesmo na casa de sua própria namorada, Gabriela, e acabaram combinando de irem juntos para suas respectivas residências. No caminho, os dois, que não tinham tirado um tempo para papear somente entre eles havia meses, colocaram parte do assunto em dia. Falaram um pouco de relacionamento, de trabalho, da faculdade do moço mais novo e de tudo o mais que foi possível encaixar nesse meio.

Da casa de Vítor, já bastante atrasado, Renato correu para a sua, arrumou-se rapidamente e foi para o escritório. Pela manhã, uma reunião improdutiva ocupou seu tempo, socado em uma sala fechada com Mateus e Laura. Antes que o encontro corporativo acabasse, a moça desatou a falar sobre sua situação na empresa e em como se comportaria deli pra frente, dado o que vinha acontecendo. Em resumo, ela informou o gerente que trabalharia nos projetos que ele solicitasse, mas também trabalharia em projetos de outros gestores mais influentes do que ele porque sentia que a batata do gerente estava assando, pra ser bem direto.

Renato ficou embasbacado. Não tanto pela aparente ousadia de Laura, mas porque ela tinha exposto exatamente o que os dois pensavam de Mateus e o que haviam combinado de fazer em segredo, para evitar interferências nos planos. Ela não suportou o peso de ser uma "conspiradora" e vomitou o que lhe embrulhava o estômago e a cabeça.

Foram almoçar em separado, os dois funcionários em um lugar, o gestor em outro. O rapaz aproveitou para perguntar à colega o que sentia que já sabia e ouviu a confirmação. De fato, ela não se sentia bem ao agir de forma incompatível com a hierarquia sem que seu superior direto soubesse. Renato percebeu que não poderia contar com ela para planos mais sensíveis, mas compreendeu o porquê de ela ter agido como agiu.

O restante do expediente foi sem soluços, com resoluções cotidianas até o momento de partir. Foi para casa com energia suficiente para arrumar sua mala e limpar parte da bagunça. Varreu, passou pano, trocou roupa de cama, esvaziou a pia de louças para lavar e deu um trato superficial no banheiro. Alice havia chegado no meio da arrumação e ficou deitada puxando papo enquanto observava o namorado fazer as vezes de dona-de-casa. Ao fim, arrumou a mala e ambos foram até a casa da moça; Renato dormirá lá para ficar mais perto do aeroporto pelo qual viajará no dia seguinte.

Depois de um bom banho, o casal se deitou para dormir e, com a cabeça de Alice em seu ombro, ele repetiu o que tinha pegado o hábito de fazer vez ou outra: "Amo você, florzinha!". Desta vez, porém, de forma inédita, houve resposta: "Também amo você...". O escuro do quarto ocultou o sorriso largo que o moço escancarou no rosto ao ouvir sua namorada se declarar. O silêncio, porém, entregou o som de seu coração batendo acelerado de alegria por um bom tempo, até se acalmar e relaxar. Dormiu sereno e satisfeito.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O apartamento ganha uma cômoda (02/11/2015)

Mais uma noite em que o casal dormiu junto, mais uma noite em que Renato teve sonhos estranhos. Talvez seja pelo calor ou pelo abafamento do quarto hermeticamente fechado que a atividade noturna do rapaz esteja em alta ultimamente, vai saber. De qualquer forma, acordou preguiçoso e foi ao banheiro só esvaziar a bexiga, tempo em que Alice já estava acordando.

Depois de um pouco de enrolação e chamegos, os dois levantaram e foram tomar um banho juntos. Hoje, a graça foi ela usar a maquininha para tirar o excesso de pelos da barba, das costas e do peito dele. Provavelmente era a primeira vez em que a moça fazia algo do tipo e a empolgação que demonstrou era o que denunciava. Pintou, bordou, fez, aconteceu, riu e antes de terminar, a bateria do equipamento acabou. Vou deixar para a imaginação de vocês a imagem do que é aquele peito branquelo com um tufo perdido do lado direito.

Vestidos, saíram da casa dela e rumaram para uma cantina napolitana em Guarulhos onde haviam marcado almoço com Elza, Paloma e Thiago. Conversaram o mesmo tanto que comeram, e italianos são mestres em exagero culinário. Dali, cheios como barris de vinho prontos para transporte, quase foram rolando até o carro para seguirem ao shopping: Renato finalmente compraria uma cômoda para seu quarto.

No centro de compras havia dois tipo de lojas: aquelas em que um gaveteiro de um metro de largura e quatro gavetas custava o preço de uma moto e as Casas Bahia. Condizente com seu apartamento, o rapaz comprou um móvel de quinhentos reais em três vezes (sem juros!), assessorado com toda a fineza que sua mãe e sua irmã têm pra distribuir: "Não acredito que você vai comprar isso?!", "Onde vai colocar seus sapatos, seu burro?", "Compra logo esse que é o melhor, vai!". Apesar da pouca cortesia, Renato se mostrava bastante satisfeito em ver como elas se envolviam em sua empreitada particular que era morar sozinho.

Na saída do shopping, o rapaz despediu-se da família e seguiu com a namorada de volta para Guarulhos. Terminou o dia em um happy hour na casa de Gabriela, onde também estavam Vítor e mais um casal de amigos; os seis bebendo cerveja, comendo amendoim e pondo o papo em dia. Já de volta na casa de Alice, onde resolveu dormir esta noite também, cochilou no sofá com ela deitada em seu colo enquanto Robocop de José Padilha passava na televisão para ninguém.

Os amigos da faculdade - Parte II (01/11/2015)

O clima estava diferente quando o casal acordou naquele domingo. Alice tinha programado uma viagem para o interior visando encontrar antigos amigos e Renato não estava convidado. Contudo, até por conta do seu estômago, ela desmarcou o passeio e acabou se conformando em ficar por Guarulhos mesmo. Acontece que seu namorado, aproveitando a pretensa ausência da moça, também organizou um passeio para si em que sabia que Alice não quereria participar: reunir-se com os amigos da faculdade. Apesar do compromisso da namorada ter caído, ele manteve o seu. Isso já foi motivo suficiente para Alice ficar com um nível de energia menor durante a manhã, provavelmente para evitar ou ocultar a irritação com a situação.

O casal tomou café da manhã juntos e, quando deu seu horário de sair, o rapaz despediu-se da namorada e seguiu para a zona leste de São Paulo ver seus amigos. O combinado do passeio era passarem nos apartamentos dos três que tinham decidido sair da casa dos pais. Sendo assim, o primeiro destino foi a casa de Carla Senatore, homônima da ex-namorada de Renato, que era tratada apenas pelo sobrenome para evitar a confusão. O bairro onde ela mora é cercado por uma favela de um lado, um parque do outro e a linha do trem como limite circunscritor. Ou seja, para chegar a sua casa, as pessoas que não conhecem caminhos alternativos têm que passar no meio da favela e Renato descobriu isso da pior maneira.

Guiando-se pelo GPS do celular e ciente do que encontraria no entorno, o rapaz foi adentrando no bairro cada vez mais pobre. Passou por ruas estreitas, vielas em que havia pessoas caminhando sem preocupação pelo meio da rua, locais onde os carros estacionavam na calçada tranquilamente dos dois lados da rua, desafiando a perícia automobilística do motorista a cada curva. Numa dessas, Renato assustou-se com um carro e jogou o seu para cima de um terceiro que estava estacionado. Quebrou o retrovisor deste e arranhou boa parte da lateral do seu. E isso era o de menos.

- Tá maluco, irmão?! - Gritou de longe o dono do veículo avariado, abusando da postura de malandro paulistano.

- Desculpa. O carro do lado abriu a porta e, no reflexo, desviei para cima do seu. Errei. Vou pagar o conserto.

- Qualquer 500 conto já acerta a parada agora, então.

Se foi piada ou extorsão, Renato não soube diferenciar. Preferiu fingir que o rapaz falava sério.

- Amigo, não tenho dinheiro na carteira, muito menos 500 reais. Se tivesse loja automotiva aberta hoje, levaríamos seu carro lá agora e já acertaríamos isso, mas não tem. Posso te passar meu número de celular e a gente resolve isso amanhã.

- Firmeza jão, mas já anotei sua placa. Vou confiar em você e pá, mas não dá mancada senão o bicho pode pegar.

Tentando transparecer calma, nosso protagonista passou seu número e pegou o do maloqueiro indignado. Quando entrou em seu carro de volta para seguir viagem, permitiu-se tremer e colocou música alta para desestressar.

Quando chegou em frente ao condomínio da Senatore, foi recebido na porta por ela, que saía para comprar arroz e desistiu para subir com o recém-chegado. Já lá dentro, na companhia da dona da casa e da namorada dela, Camila, contou o ocorrido de instantes atrás e entre risos e surpresa, foi informado que há um caminho seguro (um pouco mais comprido, de fato) para chegar ali. Pois é, quem sabe na próxima...

Em pouco tempo, Carla deu as caras e os quatro trataram de almoçar e pôr o papo em dia. Falaram principalmente do tema central do encontro: como estava sendo viver fora da casa dos pais. Ali, Camila contou que ainda não tinha saído de casa na prática, mas seu apartamento estava quase pronto. Senatore explicou que, por estar desempregada e estudando para concurso, seu maior trunfo era a privacidade, uma vez que os pais não interfeririam em seu dia-a-dia e não fariam perguntas incômodas a respeito de sua "amizade" com Camila (em um padrão tipo "Don't Ask, Don't Tell", os pais dela fingiam não saber da homossexualidade da filha).

Renato se deu conta, naquela hora, que nenhum dos três de fato tinha cortado os laços integralmente. Uma vivia com a mãe ainda, mas fixada com a tentação de sair. A outra vivia em casa diferente, mas era sustentada pelos pais. Ele ainda tirava vantagem de situações que dependiam da vida com a mãe, como ter onde lavar sua roupa, estendê-la e ter alguém para passá-la. Só o tempo dirá quem cortará totalmente o cordão primeiro.

Finda a refeição e arrumada a cozinha, o quarteto partiu para o apartamento de Renato, uma visita formal apenas para se conhecer o espaço físico. Como atração, mostrou a ausência de lavanderia e a vaga para o carro que ficava atrás do pilar e exigia uma destreza extra para colocar e tirar seu veículo dali.

A terceira e última parada foi o apartamento em reforma de Camila. O imóvel era novo, havia sido entregue pela construtora poucos meses atrás. Lá dentro, o cheiro de tinta e o plástico bolha em todos os eletrodomésticos mostravam que o esforço de transformar ali em um lar ainda não havia se encerrado. Também foram rápidos neste pit-stop, principalmente porque estava se aproximando o horário de Renato ir embora.

De volta ao apartamento da Senatore, pelo caminho que o rapaz observou e realmente notou ser mais seguro, ele pegou seu carro e voltou para a casa de Alice. A moça continuava com um humor frágil e levemente introspectivo, além de não ter perguntado um "A" sobre o dia do namorado. A solução pensada por ele foi colocar algo de humorístico na TV e relaxar. Deu certo; enquanto viam uma peça do "Melhores do Mundo" via Netflix, ambos riram e se dispuseram mais, com o que veio o sono de fim de dia a reboque. Ir com o corpo do sofá para a cama foi uma evolução natural, mesmo que antes da meia-noite.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Final da Copa do Mundo de Rugby (31/10/2015)

Renato não dormiu bem. Talvez por calor, eventualmente pela apneia que tem quando dorme de barriga para cima, acordou diversas vezes durante a noite e teve sonhos esquisitos. Quando o dia raiou, celebrou o fato de não precisar ter que ficar mais tempo ali deitado. Alice acordou em definitivo uma dezena de minutos depois do namorado e ambos foram para o banho para enxaguar a preguiça junto com o sabonete.

No café da manhã, acertaram os detalhes de como fariam para assistir a final da Copa do Mundo de Rugby. A Nova Zelândia estava marcada para enfrentar a Austrália pelo título em um jogo de força entre as duas seleções melhores classificadas no ranking internacional. O Outback foi novamente escolhido como arquibancada do casal e para lá seguiram depois de fazerem um pouco de preguiça no sofá da sala.

O restaurante estava vazio quando chegaram, pelo que escolheram um lugar estratégico no balcão em frente à TV. Desta vez, o canal de esporte que transmitiria o jogo já estava sintonizado e a partida foi assistida desde o tradicional haka, dança maori de guerra que a seleção neozelandesa faz antes de cada jogo. Recomendo uma procura no youtube para quem ficou curioso.

Pra variar, Renato não desgrudava os olhos do televisor. Enquanto Alice escolheu um prato com esmero e calma, até pensando em seu estômago, o namorado pegou uma carne aleatória com batatas para si no exato intervalo que a atenção liberou o cérebro, apenas no instante que transcorreu uma substituição de jogadores durante o primeiro tempo do jogo.

Depois de quase duas horas de fixação esportiva, nosso protagonista comemorou timidamente o título da sua seleção favorita, que ganhava o segundo campeonato mundial consecutivo. A moça, que também gosta de rugby, aparentemente ficou mais feliz com a alegria do rapaz do que necessariamente com o resultado da partida. Fato é que ambos foram para a casa dela contentes.

Para preencher a tarde, zapearam a TV a cabo atrás de algo interessante e até acharam um ou outro programa perdido. Pra quem via de fora, mais importava estarem no mesmo ambiente do que necessariamente se entreterem com o que passava na tela.

Para a noite, uma peça recomendada por Laura durante a semana foi escolhida como ocupação. Se arrumaram e atravessaram a cidade atrás do teatro em que seria a apresentação. Curtiram uma montagem de humor cotidiano de qualidade mediana. "Melhor do que ficar em casa sem fazer nada", pensou ele, sendo provavelmente acompanhado por Alice.

Ao fim, foram para a casa dela novamente terminar a noite enrolados entre lençóis e si mesmos.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Reencontrando o pequeno Furacão (30/10/2015)

Bem-vinda, sexta-feira! A semana começou bem, mas veio degringolando com o passar dos dias. Nada como a sensação de alívio com que se acorda para trazer um ar renovado de esperanças para uma mente cansada.

Renato teve uma manhã normal, aproveitando o café da manhã servido toda sexta na copa da empresa para economizar tempo gasto em casa. Dinheiro também, porque a dispensa está vazia há duas semanas e ele teria que comer algo na rua. Tirou o período pré-almoço para leituras diversas ao invés de trabalhar efetivamente. Faria isto à tarde... Almoçou na companhia de Laura em um restaurante italiano perto do escritório e decidiu mergulhar nos afazeres corporativos assim que retornou.

Para a noite, nada a vista. Pediu ajuda de Alice para decidirem um rumo melhor do que ficar em casa e ela tratou de providenciar: seu irmão, Eustachio Júnior (ou Juninho, como todos o chamam), chamou a moça e o namorado para uma pizza.

A maior alegria ao receber a notícia foi se dar conta que reveria o pequeno Fábio, o sobrinho de três anos e meio de Alice. Renato se dá extremamente bem com crianças e a recíproca tende a ser verdadeira.

Depois de enfrentar o ônibus cheio de fim de expediente e encarar o longo trânsito do horário para ir do centro de São Paulo a Guarulhos, o rapaz estava na porta do apartamento de destino prestes a tocar a campainha quando ouviu a voz fina e infantil do pequeno pestinha. Se alegrou instantaneamente e apertou o botão que fez soar o aviso de que tinha chegado.

- Tio Lenato! - foi possível ouvir o grito extasiado da criança.

A porta se abriu e Alice estava ali para recebê-lo. Ele a cumprimentou e reparou que Fábio estava embaixo da mesa "escondido".

- Renato, o Fábio não está aqui hoje! - disse Juninho, depois de um aperto de mãos e a famosa piscadela de um olho só de quem blefa.

- Meu Deus! Eu vim aqui pra gente brincar! Então vou embora... - respondeu, entrando na onda.

Com um berro estridente depois de agarrar o tornozelo do "tio", o garotinho fez cara de sapeca ao ter conseguido "dar um susto" no rapaz. Renato fingiu o susto de forma teatral, lembrando as expressões de filmes mudos do começo do século XX, e agarrou Fábio como "reação". Jogou-o para cima, depois colocou no chão, rolou, pôs pra cima de novo e arrancou risadas do menino a cada movimento.

A sintonia era clara! Enquanto contava sua saga em Israel para Juninho e a esposa, corria atrás de Fábio, carinhosamente chamado de Furacão pelo nosso protagonista. Falava de política e crise e punha o garoto nas costas, anunciando que tinha um saco de batatas pra vender. Até na hora de comer deixou o pequeno "dar comida em sua boca", ou o que quer que seja que uma criança daquela idade consegue fazer com um garfo e um pedaço de pizza. Lambuzou-se tanto quanto conseguiu se alimentar; talvez mais do primeiro do que do segundo.

A hora de ir embora foi seguida por um "Mais já?" por parte do menino, visivelmente insatisfeito com a despedida. Renato se sentia realizado pelo alvará de volta à infância que havia ganhado e a recompensa da indignação de Fábio com o fim das brincadeiras.

Indo pra casa de Alice, onde dormiu, teve tempo de pensar: "E quem disse que sexta é necessariamente dia de bar e cerveja?".

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Os amigos da faculdade (29/10/2015)

Há alguns dias, Alice havia contado a Renato que viajaria para o interior no domingo para um evento de uma antiga amiga. Ele não estava nos planos. Resignado, apesar de levemente incomodado, o rapaz tratou de aceitar um convite dos colegas de faculdade para visitarem mutuamente as novas casas para que se mudaram. Dos cinco que ainda se falam com frequência, três saíram das casas de seus pais em 2015.

Neste ponto, duas questões aparecem. A primeira é que Renato namorou entre 2006 e 2010 uma das meninas do grupo, Carla, e logo da primeira vez que a duas se encontraram, esta falou mais do que deveria na frente de Alice. A antipatia adquirida pela atual namorada foi justificada e instantânea.

A segunda questão é quanto ao tipo de relacionamento que os amigos engenheiros desenvolveram entre si. Sem jugar o mérito, eles são bastante agressivos e pouco respeitosos uns com os outros, o que dá margem para respingos fora do círculo interno. E nesta quinta, foi isso o que aconteceu.

Renato publicou no Instagram uma foto de Alice e fez uma pequena declaração para a moça. O grupo, então, se juntou para sacanear o rapaz e comentou o post com uma piada interna, típica das que faziam entre si sem respeito pelo próximo, que não foi entendida dessa forma pela retratada na imagem e estava posta a querela.

De um lado, a namorada reclamava do nível de intromissão dos colegas e se sentiu atingida pelo que foi publicado. De outro, os engenheiros opinavam que a moça era melindrosa demais e que a piada nem foi pra ela, foi pra ele.

Entre planilhas e e-mails corporativos, Renato passou a tarde mediando as reclamações de ambos os lados no WhatsApp. Por fim, depois de muito conversarem, acertou com Alice que apagaria os comentários e com os engenheiros que eles não mais se manifestariam em imagens em que Alice estivesse. Nenhum dos três pareceu ter ficado plenamente satisfeito. Contudo, não havia mais o que ser feito para desamarrar o nó sem correr o risco de apertá-lo mais.

A propósito, o domingo do rapaz ainda estava programado para ser passado com os amigos, para descontentamento da namorada.

Depois de consumir todo seu dia com isso, Renato tirou a noite para si e foi ao cinema sozinho assistir Perdido em Marte.

Alice e seu estômago (28/10/2015)

Depois de uma segunda e uma terça de stress, nada mais justo do que uma quarta-feira para relaxar. Esse foi o pensamento de Renato no momento em que pisou no escritório. Ligou seu computador e tratou de colocar as leituras e as conversas em dia. Conversou com Laura o tempo todo, aproveitando do fato de ela estar sentada à mesa ao lado, bem como com Andressa pelo comunicador interno da empresa, e com todos os que conhecia via Whatsapp. Entre um bate-papo e outro, verbal ou pelo teclados, corria o olho por notícias do jornal que assina e por artigos de seus sites favoritos. Não havia nem aberto o e-mail corporativo e já eram quase 11 horas da manhã.

Entre a meia dúzia de frentes de conversa que tinha aberto, é natural que houvesse uma com Alice. Por ser dentista e não poder parar os trabalhos um segundo para mexer no celular, a troca de mensagens era mais truncada, com grupos de textos enviados pelo rapaz que aguardavam resposta dela dali meia ou uma hora, dependendo do fluxo de pacientes dela.

Em um desses blocos de resposta, Alice reclamou da dor no estômago que sentia, semelhante em sintoma e pior em intensidade que aquela que sentira na noite de sexta para sábado e durante o próprio sábado inteiro. No bloco seguinte, o susto: "Re, estou indo para o hospital, o pai da Gabi vai nos levar. Por uma coincidência infeliz, ela também está com dor no estômago...".

Renato ficou tenso, apesar de ter tentado não demonstrar. A mãe de Alice havia morrido de câncer de pâncreas há pouco menos de um ano, depois de uma luta de 30 meses. A própria Alice já havia feito uma cirurgia em fevereiro para retirar a vesícula, por orientação médica. Gabriela, pra completar o cenário, também não tinha a vesícula mais, além de ter feito cirurgia de redução de estômago há dois anos.

Tentando demonstrar calma, o rapaz procurou manter contato com a namorada o tempo todo. Acompanhou quando ela disse que iria tomar um litro de soro com medicação para dor; aliás, recebeu uma foto das duas, ela e a amiga, sentadas com agulha no braço e tubo cheio de líquido saindo dali. A ansiedade bateu de verdade quando ela disse que a médica pediu uma tomografia "pra ver se está tudo bem com a cirurgia". Como um bom leigo no assunto, a sensação é que, quanto mais o doutor quer bisbilhotar, maior o índice de "fodeu" que a situação potencialmente tem.

No fim das contas, o exame não mostrou nada de anormal. Por segurança, foi reforçado que a moça deveria fazer uma endoscopia o mais breve possível. Alice foi liberada e seguiu para casa descansar, pelo que Renato prometeu uma visita à casa dela mais tarde, após o expediente. A amiga não teve a mesma sorte e saiu de lá com o diagnóstico de infecção intestinal, uma lista de restrição alimentar e uma data agendada para retorno com um gastroenterologista.

Renato ainda produziu uma coisa ou outra no trabalho e saiu junto com Laura, para conversarem na caminhada pelo trecho em comum que dividiriam na rua. Seguiu até em casa para pegar seu carro e ainda enfrentou 40 minutos de trânsito antes de ver Alice pessoalmente.

Ao contrário do que temia, Alice estava sorridente e emanava alegria. De fato, seja por saudade ou por más memórias, o rapaz a vinha sentindo mais amorosa nesta nova fase do relacionamento, mas a manutenção disso só o tempo irá dizer. Notável registrar também que foi a primeira vez que Renato reviu o senhor Eustachio, pai de Alice, desde quando terminaram o namoro. Cumprimentaram-se formalmente apenas.

O casal ficou sentado na cama dela, ele encostado na cabeceira e ela aconchegada em seu corpo. Conversaram sobre nada, além de falarem brevemente sobre o dia, até ela adormecer ao som da novela que passava na TV sem receber atenção. Renato sorriu satisfeito.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Entre reuniões desinteressantes e conversas produtivas (27/10/2015)

Houve um tom de nostalgia quando Renato foi acordado por sua irmã quando esta saiu do banho e o chamou em seu quarto. Do alto do colchão que fica em cima do armário de seu antigo quarto, ele abriu os olhos e sorriu com a lembrança de como eram todos os dias de trabalho pela manhã quando morava na casa de sua mãe.

Atrasado, ele não ligou muito e foi pro banho. Arrumado, ele também não ligou para horário e devotou um tempo ao café-da-manhã com Paloma e Elza. Esta, inclusive, ainda arranjou aos filhos uma boa carona para o metrô.

Chegou no escritório 15 minutos depois do horário previsto para a reunião a que estava convocado, mas constatou que Mateus ainda não havia chegado, apesar de ser o organizador da referida reunião. Aí está uma coisa que incomoda Renato, mas foi absorvida com leituras de artigos interessantes na internet.

Quarenta minutos de atraso e o gerente apareceu para que a reunião se iniciasse. O rapaz não estava ali trabalhando, apenas seu corpo como avatar de sua presença. Ligado a um projeto fadado ao fracasso, mas como única forma de se restabelecer na empresa, Mateus tentava extrair de sua equipe o melhor de cada um para ajudá-lo. Contudo, há tempos ele já não tinha o controle sobre seus subordinados e tinha que gastar o dobro ou o triplo de energia para concentrá-los em torno de um objetivo que fosse seu.

No almoço, foi com Laura para desabafarem um com o outro as angústias de estarem naquela sala fechados e mais meio expediente que teriam que passar lá. De volta, mais cinco horas de clausura transcorreram até a liberdade para a rua.

A parte boa do dia foi que Renato foi buscar sua irmã no trabalho para dar-lhe uma carona até a casa de sua mãe; ele precisava buscar a roupa passada que havia lavado no final de semana e deixado lá para a empregada de Elza fazer o esforço com o ferro.

Entre piadas e fofocas, os irmãos discutiram por bastante tempo o futuro e a carreira de Paloma, com o rapaz prestando seus serviços amadores de coaching. Jantaram só eles na padaria da praça perto do destino final, já que Elza iria trabalhar a noite toda no hospital, e encerraram o dia em um bom tom de confraternização.

Aniversário de Dona Elza (26/10/2015)

Os pesadelos de Renato são tão criativos quanto o próprio rapaz. Na noite de ontem para hoje, ele sonhou que estava viajando a trabalho e seu voo de volta para casa havia sido adiantado, a pedido dos demais passageiros que já haviam chegado ao aeroporto. Sendo assim, restou-lhe esperar resignado a partida do dia seguinte. Tendo retornado à cidade, uma chuva torrencial inundou a cidade e móveis eram arrastados pela correnteza, pelo que ele entrou no rio barrento e artificial formado na rua para ajudar as pessoas a resgatarem seus bens.

Ao fim da confusão pluvial, ele se viu na praça central do lugarejo, em que uma guerra de bananas e maçãs se iniciava. Revoltado com a quantidade de reveses daquele dia e sob fogo cruzado de quitanda, em que uma maçã acertou-lhe a costela, ele começou a revidar com agressão física àquela "brincadeira" e acordou ofegante antes que fosse arrastado para a delegacia pela Polícia Militar que se aproximava da peleja.

Abriu os olhos e o dia já estava clareando, mas ainda não era hora de levantar. Coração acelerado com o sonho esdrúxulo e cabeça preocupada em perder a hora, as dezenas de minutos seguintes de sono foram péssimas, razão pela qual ficou o dia inteiro sonolento.

No escritório, chegou no horário pedido pelo gerente para uma reunião dita importantíssima e teve que esperar quase 40 minutos antes que de fato algo de importante acontecesse. Mil obrigações, três projetos paralelos, tudo sempre urgente, somados ao mau humor de querer um travesseiro ao invés de um notebook, fizeram do seu dia de trabalho um martírio.

Nem chamou Andressa no comunicador interno da empresa para papear, como era de costume, de tanto que exigiram de Renato. Almoçou ao lado do computador na mesa de trabalho, alternando garfadas e cliques, mastigação com digitação.

Apesar de jurar que já estava naquele ambiente havia 46 horas, suas 9 horas regulares se expiraram e precisamente às 18:04 ele deixou o edifício no centro da cidade e foi para a casa de sua mãe, comemorar com um jantar os 61 anos de vida de Elza.

Se no trabalho as pessoas não colaboraram, no fim do expediente foi o Metrô que deu sua contribuição para provocar os limites do rapaz. Uma falha em um trem em uma das estações fez com que tudo travasse naquele meio de transporte e o embarque se mostrou impossível. Trocou o modal para meia hora de caminhada e dois ônibus, mas agraciado com a companhia de Paloma, com quem combinou de se encontrar para fugirem juntos do metrô; ela também usa este regularmente para voltar para casa e também viu que hoje ele estava impraticável.

Finalmente na casa de sua mãe, lá estavam a própria e sua irmã mais velha, Matilde, que também fora convidada. Os quatro seguiram para uma casa de cortes argentinos de carne, onde se esbaldaram entre o prazer do comer e o prazer de falar. Couvert, foto, prato principal, sobremesa, café, satisfação, casa. O roteiro de uma noite para apagar o desastre do dia.

Comemorando o aniversário - parte II (25/10/2015)

Originalmente, com seu intuito de fazer comemorações de aniversários totalmente atípicas, Renato queria levar família e amigos para a praia e fazer um dia de ócio na areia, com direito a almoço patrocinado. Como já falado anteriormente, o esquema do transporte ser via micro-ônibus foi por água a baixo faz um tempo e hoje o rapaz se deu conta que mais água a baixo atrapalharia de vez seus planos. Logo pela manhã, uma chuva intensa sugeriu que ele conferisse o tempo na baixada e o clima era o mesmo. Nada de areia e água salgada, então.

Rapidamente, ele passou a buscar um restaurante que aceitasse as 18 pessoas confirmadas para o passeio e encontrou disponível e financeiramente acessível o América do shopping. Todos informados, e sem se incomodarem de forma visível com a mudança, o grupo marcou de se reunir ao meio-dia na frente do local de almoço.

Surpresa número 2: assim que chegou, Renato foi informado que "uma ocorrência imprevisível impediu a abertura do restaurante, senhor. Pedimos desculpas pelo inconveniente". Chame de azar ou inferno astral, mas nas mãos dele tinham quase vinte pessoas esperando para comer e celebrar. De improviso, o estabelecimento ao lado aceitou receber a galera toda e assim foi.

Sem ter se preparado com tempo para a situação, o atendimento e a disponibilidade do restaurante escolhido de última hora não foram dos melhores. Entradas frias, pratos atrasados, pratos trocados, bifes pouco ou muito passados... Ainda assim, quem estava com jeito de desconfortável era só Renato. Todos comiam e contavam histórias animados com a reunião, o principal motivo de ele ter feito o evento. Alice o lembrou disso a tempo o rapaz conseguiu relaxar.

Olhou em volta para contabilizar mentalmente o que havia conseguido fazer. O braço de Sorocaba da família veio em uma viagem de bate-e-volta só para vê-lo; um dos primos que pouco vai a eventos por conta do filho pequeno foi com o guri e até com a sogra, para poder participar; amigos deram um jeito; Carina veio do Rio. Renato sorriu.

Finda a comilança, estava programada uma partida de boliche para dar continuidade ao dia. Alguns precisaram partir e o quórum se reduziu a sete pessoas, incluindo nosso protagonista. O número era um acima do ideal para uma pista e, com um pouco de conversa, eles conseguiram se apertar e fazer o jogo acontecer com todos juntos.

Depois da brincadeira, mais algumas despedidas. Foram-se alguns e ficaram Renato, a namorada, sua irmã e o namorado, além da carioca primeira colocada na partida. Esta foi logo deixada no aeroporto, Paloma e Thiago na casa de Elza e o casal restante seguiu para o apartamento do rapaz.

Com a cabeça no travesseiro, ele finalmente relaxou e se sentiu satisfeito. Apesar dos pesares, dos planos terem sido constantemente estragados pela Lei de Murphy, tudo correu bem e a comemoração foi mais um sucesso. Antes de dormir, abraçado a sua morena, ele já projetava a celebração do ano seguinte, seus 30 anos.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Comemorando o aniversário - parte I (24/10/2015)

Sexo matinal. Quem não sabe o que é isso precisa rever as pequenas conquistas da vida.

Isto posto, Renato e Alice acordaram no sábado cedo e se aprumaram assim que foi possível para buscar a prima dele no aeroporto. Carina vinha do Rio de Janeiro, onde mora, exclusivamente para as comemorações de aniversário do rapaz. O casal ainda passou na casa da mãe dele para pegar Paloma e Thiago antes de iram para Guarulhos.

Com a prima no carro, entre comentários, gritos, risos e um falatório absurdo, ficou decidido que eles tomariam café da manhã em uma padaria do lado da casa de Alice, que a moça carioca gosta bastante. Contudo, desde a manhã a namorada de Renato vinha reclamando de dor no estômago e, aproveitando que estaria tão próxima de casa, deixou os quatro na padaria e foi descansar um pouco depois de tomar um remédio para aplacar o incômodo.

Após terem se acabado de tanto comer, o quarteto voltou para a casa de dona Elza, onde Carina ficará hospedada neste fim de semana, para que ela pudesse deixar a mala e tomar um banho. Com ela novamente pronta para sair, eles voltaram para Guarulhos para buscar Alice e seguiram para um Outback assistir à semi-final da Copa do Mundo de Rugby. A Nova Zelândia enfrenta a África do Sul pela vaga na decisão do título e Renato não queria perder um lance.

No restaurante, ele foi motivo de chacota. Enquanto todos comiam e falavam, o rapaz ficou mudo vidrado na televisão em que os All Blacks terminaram o primeiro tempo perdendo. Alice comeu pouco e bebeu chá, uma vez que seu estômago ainda dava sinais de que não estava completamente recuperado. No segundo tempo, o time favorito virou o jogo e venceu, pelo que Renato vibrou e passou a tirar o atraso de saciedade em relação aos demais.

A próxima parada da trupe foi o Parque Villa Lobos. O clima, que pela manhã estava encoberto, mas agradável, mudou radicalmente em pouco mais de sete horas e o vento gelado cortava a pele sob o céu cinza claro. Ainda assim, eles ficaram próximo ao canil do parque por quase uma hora até se renderem ao sopro polar que castigava e decidirem voltar para casa.

O mais interessante, contudo, foi Renato ter tido tempo de perceber que, "mais importante que o destino é o caminho". Apesar de cliché, a frase diz muito do dia de hoje. Indo daqui pra lá e dali pra acolá o tempo inteiro, rodando os quatro cantos da cidade de São Paulo, ficarem juntos dentro do carro deu-lhes tempo de colocarem as histórias em dia. Bons momentos de amizade que independeram de luxo, paisagem ou ambiente.

Depois de relaxar um pouco na casa de Dona Elza, esperando o cair da noite, os cinco foram ao quarto destino da noite: uma piscina de bolinhas para adultos. Um shopping a pouco mais de 20 minutos de onde estavam montou um espaço em que era permitido o acesso a maiores de idade à diversão mais típica da infância de qualquer criança de cidade. Durante quinze minutos, eles voltaram aos anos 90 e participaram de guerra de bolinhas, "natação", "mergulho", "nado sincronizado" e todos os esportes aquáticos possíveis entre aspas. De fundo, luzes de balada e música eletrônica fizeram o tempo correr veloz. Apesar disso, eles saíram exaustos e até suados da visita breve ao passado onde a maior preocupação era garantir que o Sonic venceria o Robotinik.

Tendo todos regressado ao pensamento adulto, o fim de noite pedia música e bar. Paloma e Thiago resolveram ficar em casa, pelo que se juntou ao trio remanescente Leandro, o primo que deu carona para Renato na volta de Sorocaba há coisa de duas ou três semanas. Agora, além do recém-chegado, nosso protagonista, Alice e Carina rumaram ao último destino do primeiro dia de comemoração, um bar na Vila Madalena. De esquina, com pagode ao vivo, o ponto de parada foi perfeito para tomarem uma cerveja gelada e falar besteiras sem critérios madrugada a dentro.

Perto das três horas, eles foram embora levemente embriagados e felizes: Leandro para sua casa, Carina para a casa da mãe de Renato e este e sua namorada para seu apartamento.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Noite no Ibotirama (23/10/2015)

A manhã de sexta-feira anunciou o início das comemorações oficiais do aniversário de Renato. Os três dias do final de semana estavam preenchidos com eventos sociais e o fim do expediente de hoje traria como abre-alas um barzinho com Edson, um colega da época da faculdade de economia.

Como grande parte das sextas-feiras, o trabalho em si foi mais tranquilo. Parece que todos no escritório já tiram o pé do acelerador para entrarem no sábado desconectados dos problemas do serviço. Com menos solicitações e até mesmo menos autocobrança, Renato fez suas atividades tranquilamente, almoçou com Laura, voltou para a semi-letargia do ambiente de trabalho pós-meio-dia e decidiu encerrar as obrigações às 18 horas.

Ainda no oitavo andar de um prédio comercial na Faria Lima, ele mandou mensagem para Edson e para Alice (evidentemente, ela também foi ao barzinho) para sincronizarem o encontro na Av. Paulista, palco da bagunça de hoje. Renato subiu à avenida de ônibus, o colega foi a pé e a namorada, de carro. Pouco antes das oito da noite, os três estavam entrando no estabelecimento e pedindo a primeira cerveja.

Edson é um rapaz extremamente divertido e faz da sua homossexualidade uma escada para chocar os outros com histórias e casos pelas quais passou nos vinte e poucos anos de vida que tem. Nosso protagonista já está remediado com esse tipo de atitude, mas Alice foi pega de surpresa.

No primeiro copo de cerveja, o rapaz gay estava de camisa fechada e sentado comportado à mesa, falando essencialmente do novo emprego que conseguiu há pouco mais de um mês. Na terceira garrafa, ele já estava com a camisa aberta e o assunto já girara para seus encontros sexuais. Foi quando ele pediu uma caipirinha.

Meia hora depois, o copo de vidro baixo só tinha cubos de gelo e dois quartos de limão macerado. O líquido já estava completamente dentro de Edson, que falava de forma embriagada mais coisas do que deveria. Renato gargalhava e Alice se espantava com as histórias de festas nuas, sexo com rapazes que acabara de conhecer em aplicativos de encontros, perdas parciais de memória em baladas regadas a muito álcool e até um caso de fisting (procure no Google se não souber o que é, mas sugiro fazê-lo com privacidade).

O auge da verborragia foi quando o tagarela comentou que Renato o havia chamado para uma festa fetichista para ambos a conhecerem. Este estava solteiro na época e, mais aberto a experiências de vida que a média das pessoas, procurou uma companhia para se sentir menos deslocado. Pelo relato acima, dá pra perceber porque Edson foi o escolhido.

Por se tratar de quem narrava, mesmo sem ter ido sequer uma vez lá e abusando da sua capacidade criativa, o colega contou para Alice que havia sido convidado pelo namorado dela para uma festa "em que o pessoal fica pelado e faz sexo na frente de todo mundo". Ela sorriu, mas seus olhos denunciavam que o tempo fechara. "Hora de partir", pensou Renato.

Desviado o assunto estrategicamente, o trio pediu uma saideira e logo foram embora; o casal com o carro da moça e o rapaz avulso, de metrô. Desnecessário dizer que Alice ouviu uma pequena explicação mais isenta do que era a dita festa, a "confissão" de que ele realmente havia chamado Edson para lá e que, com o namoro, o plano havia se extinguido.

- Ainda bem! Porque assim, você pode até ir e tal, a vida é sua, mas nem me liga no dia seguinte! - expirou ela em um tom entre o cômico e o ácido.

Renato assimilou a informação, mas não fez questão de processá-la naquele momento. Foram os dois para seu apartamento namorar e dormir de conchinha como se isso já estivesse 100% resolvido.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Alice, esse pequeno pote de ciúme (22/10/2015)

Após tocar o despertador, o iPad de Renato pediu que o sistema operacional fosse atualizado. O rapaz clicou em "Sim" e, sem ter como conferir e-mail pela manhã, partiu para o banho. Uma vez limpo, vestiu sua roupa social de praxe e saiu para trabalhar, sem se esquecer de levar o tablet com a nova versão do software instalada.

A caminho do trabalho, falou com Alice, com Paloma, com seus primos no grupo de WhatsApp e conferiu o Instagram, sua rede social favorita. No escritório, decidiu que iria dividir seu tempo entre a pilha de afazeres ainda atrasados por conta da viagem a Israel e o planejamento da comemoração de seu aniversário na praia. E assim o fez.

Entre planilhas, slides e e-mails altamente desinteressantes, cabe registrar que Renato verificou que não conseguiria alugar um micro-ônibus para levar todos à praia, destino escolhido por ele para agregar todo mundo da família usando como desculpa a comemoração de seus 29 anos. Parou o que desenvolvia para a empresa e tratou de ligar para o pessoal para providenciar os quatro carros necessários para carregar a trupe serra a baixo. Felizmente, com o aparente prestígio com que o rapaz conta entre os familiares e a força de união dos poucos amigos verdadeiros, não foi difícil arrumar essa quantidade de veículos.

Outra coisa pendente na celebração era o almoço, e isso não teve jeito. As opções existentes não cabem no bolso do nobre, porém não tão rico, jovem e ele decidiu que vai lançar os dados da sorte. O que eles decidirem, assim será. O mais provável, contudo, é que Renato os encaminhe à hamburgueria do shopping da cidade e todos comam na praça de alimentação mesmo. Só saberemos daqui a três dias.

Um fato curioso, entretanto, aconteceu perto do fim do expediente. Uma hora e meia antes do café agendado por Nami no shopping próximo ao escritório de Renato, ele resolveu confirmar o compromisso com ela e recebeu a notícia de que moça precisaria cancelar o passeio. Não tão surpreso assim, dado o histórico daquela criatura imprevisível, o rapaz comentou por mensagem com Alice o ocorrido, com o que ela gargalhou. Por alguns segundos ele se sentiu mal. O jovem sabia que o motivo do riso era puro ciúme, mas isso não diminuía sua frustração ao saber que sua namorada torcia para que ele não conseguisse sair com outras moças, ou talvez para que não ocorressem reuniões em que ela não estivesse presente.

Na prática, ele preferiu desconversar, fazer piada e seguir com outro assunto. De qualquer forma, o casal não iria se encontrar hoje porque a moça havia marcado jantar com seu pai. Renato, então, decidiu ir para a casa da mãe lavar roupa e assistir Netflix, unindo o útil ao agradável no fracasso de fim de noite.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Um dia ordinário (21/10/2015)

Se você quer saber como é um dia comum na vida Renato, esta quarta-feira é um excelente exemplo. Ele despertou no horário de sempre e pediu uma soneca de 10 minutos ao celular, como sempre. Levantou, tomou banho, se arrumou, tomou café da manhã, preparou um episódio de podcast para ouvir e saiu de casa. Bom, quando não há algo interessante para se ouvir, há um livro para ser lido.

Ao chegar no trabalho, participou da reunião para a qual foi convocado no dia anterior e recebeu mais uma pilha de atividades para realizar até o final da semana. Mergulhou em números e análises até o almoço.

Usualmente ao meio-dia o rapaz sai para comer com Laura, mas esta não estava no escritório. Foi sozinho, com a mesma companhia auditiva da ida para o serviço. Ao retornar, Mateus o chamou para mais uma reunião de alinhamento, em que se definiu mais um tanto de entregáveis para os próximos dias.

Com uma boa playlist no computador ouvida por fones, Renato desligou-se do mundo e fez o que tinha que fazer até o limite da paciência. Coincide que o fim desta também foi o fim do expediente, pelo que ele voltou para casa de ônibus com o mesmo companheiro do almoço.

Em seu apartamento, o tempo foi ocupado como nas noites em que não há nada para ser feito: jogos no iPad, leitura de jornal e bate-papo no Whatsapp com quem mais estiver de bobeira, até o sono pegá-lo e o colocar embaixo do edredom quente da cama de casal em seu quarto. Dormiu embalado pela sineta do trem que passa na rua de trás do condomínio.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Nami reaparece (20/10/2015)

Renato acordou cantando, embalou uma música no tablet e foi tomar banho ao melhor estilo The Voice versão chuveiro. Ainda teve tempo de combinar uma carona com Andressa para ir trabalhar de moto com ela. No caminho, acertaram que hoje à noite ele iria gastar mais um pouco de combustível da Bis pra brincar de ser feliz.

A terça-feira que começou leve foi recebendo peso aos poucos. A primeira carga foi uma péssima notícia para um dos projetos, que o fará atrasar mais de uma semana. Seguiu para uma ligação no celular chamando-o para estar cedo no escritório de São Paulo no dia seguinte, o que inviabilizaria o passeio de moto. Isso tudo antes do almoço!

Pouco depois do meio-dia, Andressa o convidou para almoçar e o rapaz prontamente aceitou. Desta vez foi como ouvinte, já que a moça também tinha dado suas voltas nesse período em que ele estava em Israel. Ela contou que se reaproximou de Ralf, outro colega de trabalho, que foi transferido para Campo Grande há uns meses e com teve um pequeno envolvimento. Depois que o moço viajou para o Mato Grosso do Sul, a relação esfriou um pouco e ela tentou reaquecer o papo.

Contudo, semanas antes Andressa havia comentado com ele que saíra com Renato e o antigo affair teve ciúme. Tratou de responder a moça de forma polida mas objetiva, sem continuar a conversa ou abrir possibilidades para desenvolvimento do assunto. Ela contou que Ralf, quando está de viagem agendada de volta para o interior de São Paulo, vem todo fofo e carente puxar assunto e que ela sabe que é só porque ele tem quase garantido uma noite de cobertor de orelha. Disse não se importar, pelo que Renato duvidou internamente, mas não se expressou por não ter moral nenhuma nesse assunto.

À tarde, entre uma planilha para resolver e um e-mail para replicar, o celular vibrou uma mensagem e o rapaz foi ler. Era Nami.

Nami é uma ex-colega de faculdade com quem ele já se envolveu por um tempo, em um período em que ambos estavam emocionalmente bastante frágeis. Na época, nenhum dos dois teve forças pra carregar um relacionamento e ele desmoronou sobre eles, deixando feridas e mágoas. O tempo fez seu papel ao cicatrizar os machucados de Renato e colocar essa história em uma caixa importante, mas cerrada e encerrada, do arquivo de memórias. Ela sumiu por mais de 3 anos e hoje mandou um "Oi".

Aparentemente alguém esbarrou na tal da caixa e espalhou tudo pelo chão de sua cabeça. Ele demorou um tempo até por tudo pra dentro de novo e deixar impecável, ficando certo do porquê que não haviam dado certo. Pensar em Alice ajudou tremendamente no processo. Ele respondeu de maneira idêntica: "Oi".

Foi surpreendente como o assunto rendeu e eles marcaram um café para a próxima quinta-feira para se atualizarem mutuamente de mil dias de vida. O único sentimento de Renato era felicidade, uma vez que qualquer outro mais intenso tinha ficado pra trás na estrada, guardado em fotos e recados na caixa de papelão.

Voltar pra São Paulo de carro naquela noite foi o tempo que o rapaz tirou para reviver os meses de altos e baixos extremos que viveu com Nami. Sorriu de ironia ao rever como tudo estava fadado ao fracasso desde o primeiro beijo, apesar de insistirem até o telhado sobre suas cabeças vir abaixo. Aproveitou para informar Alice que tinha marcado o café para dali dois dias e sentiu uma ponta de ciúme (sempre ele aparecendo nos relacionamentos) na resposta dela. "Ok...".

sábado, 7 de novembro de 2015

Renato conta a Andressa sobre Alice (19/10/2016)

O celular despertou de madrugada porque ambos teriam que sair mais cedo que o de costume. Renato iria trabalhar no interior hoje e Alice voltaria para Guarulhos também para trabalhar. O casal recém-renamorado pisava em nuvens e conversava contente enquanto se arrumava para deixar aquele pequeno apartamento no centro.

Depois da avenida principal, cada um foi para um canto em seu próprio carro e duas horas depois o rapaz chegou no escritório. Encontrou Andressa, que não via desde antes de viajar para Israel, e já pediu a ela que eles saíssem para almoçar juntos.

A vida corporativa dele estava um caos, entre o abandono e a negligência, pelo que Renato tratou de arregaçar as mangas para ordená-la. Gastou toda a manhã só se planejando, tantos eram os assuntos pendentes, que até foi comer mais tarde que o de costume.

Ele e sua amiga seguiram de moto (ah, aquela sensação de andar de moto!) até um restaurante mais reservado e o rapaz começou a falar:

- Há um mês mais ou menos, mandei mensagens para Alice e fui ignorado, depois repelido da vida dela a pedido da própria. Isso eu te contei. O que eu não te contei é que ela, do nada, veio me procurar para conversarmos e os ponteiros começaram a se alinhar. Da última vez em que estive aqui em Santa Bárbara, nós dois ainda não havíamos nos encontrado desde o término e continuei a sair com você, mas com a cabeça longe. Quase três semanas depois, eu estou aqui pra te falar que conversamos, nos acertamos e voltamos a namorar. Não sabia como te dizer isso sem ser pessoalmente, e por isso demorou tanto.

Conforme dizia as palavras, sem perceber Renato foi abaixando a cabeça, como quem se arrepende ou se envergonha de algo. Foi pego de surpresa com a resposta de Andressa.

- Nossa, fico feliz pela consideração que você teve por mim, de verdade. Mas via isso tudo mais como um P.A. do que outra coisa. Sabia desde o começo que não havia futuro, mas sua companhia é tão boa que fui levando. Estou contente que deu tudo certo!

Só ele ouviu o estrondo que o peso que havia em suas costas fez ao sair dali e cair no chão. Até sua postura melhorou, sentado na cadeira do restaurante. Sorriu.

- Desculpa, eu realmente não sabia como agir. Eu me enrolo tanto com essas situações que já perdi boas amizades, e não queria ver o filme se repetir mais uma vez.

- Relaxa. Está tudo bem. - a resposta dela soou bastante verdadeira.

Ainda no meio do prato, ele levantou-se e deu um abraço forte nela. Andressa retribuiu e trouxe o tom neutro da amizade de volta para a mesa:

- Tá, agora me conta o que eu perdi dessa história toda.

Um almoço foi pouco para Renato, pelo que ele continuou tarde afora via comunicador interno da empresa, alternando entre pôr as coisas nos eixos e digitar loucamente tudo o que estava guardado a tanto tempo de uma confidente.

Andressa se foi em seu horário regular de expediente e ele ficou até mais tarde, repondo as horas não trabalhadas de Israel. Seguiu para o apartamento-república em que dormia após ir ao mercado e comprar algumas coisas para passar a semana. Deitou-se só e leve. Dormiu sem sonhos.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Parabéns pra você, Alice (18/10/2015)

Renato acordou em sua antiga cama na casa de sua mãe. Ela e Paloma o despertaram pouco antes das nove da manhã parabenizando-o pelo seu dia. O rapaz não é muito afeito a comemorações de aniversário, mas entende o amor e a alegria com que as duas vêm todo ano desejar-lhe "muito anos de vida, felicidade, saúde" e o mesmo de sempre.

Apesar de teoricamente ser uma data festiva para ele, sua programação do dia estava preenchida com dedicação a terceiros: sua mãe, sua irmã, seu pai e Alice. A senhora estava pronta para viajar e seus filhos a levaram até o aeroporto para uma semana de esquecimento da vida paulistana em Angra dos Reis junto com duas irmãs. De lá, os dois irmãos seguiram para o shopping para Renato comprar um brinco com a ajuda de Paloma. Indecisos entre um dourado e um prateado, o rapaz acabou comprando ambos com um dinheiro que pretendia guardar e, com um "foda-se" mental, disse decidido à moça do caixa: "Crédito!".

Finda a compra, Paloma e o irmão partiram à primeira comemoração marcada para o dia, junto com o pai deles. Os dois se encontraram com Abel com cinco minutos de atraso em relação ao combinado, o que para eles é uma marca e tanto! O senhor mesmo se surpreendeu com a pontualidade e não perdeu a chance de fazer uma piada, a que abriu os trabalhos. Aí está mais um trio que fala muito e, na maioria das vezes, só besteira. Ouvi-los é garantia de altas risadas!

O espaço que escolhido pelo pai era um bar de bairro, grande e com muitas mesas, mas simples em termos de decoração e sofisticação. A cara de Abel! Para Renato, estar ali já era um baita presente. Pediram mandioca frita, caldo de feijão e cerveja, muita cerveja. O rapaz mesmo tomou três ou quatro copos, mas os outros dois enxugaram seis garrafas do líquido dourado. A conta foi entregue a uma mesa levemente embriagada e satisfeita. Como nosso protagonista já havia avisado aos demais que precisaria sair em horário determinado porque tinha um encontro com Alice mais tarde, ele seguiu o roteiro inicial e partiu, passando antes na casa de sua mãe para deixar Paloma.

Em sua casa, Renato vestiu-se do melhor que pôde, pegou os brincos, uma caixa de chocolates Godiva em forma de coração que havia comprado no free shop dias antes e se encontrou com moça, que já o esperava na portaria. Ela a via linda e percebia o esmero com que ela também se dedicara à aparência para o encontro.

Seguiram até o centro da cidade, em uma confeitaria de rua com um ar bastante romântico. Alice não havia almoçado e Renato aguardou que ela se alimentasse antes de iniciar sua declaração:

- Florzinha, eu sei que disse que esperaria o seu tempo! Mas encontrar um amor para mim é tão raro que eu não consigo me conter, tanto que é impossível não estar feliz ao seu lado e querer isso a todo momento. - Ele fuçou rapidamente na sacola de papel que havia trazido, sacou o embrulho de um dos brincos e continuou - Quer voltar a namorar comigo?

Ela abriu a caixa e o sorriso mais lindo se pregou no rosto da moça. Os olhos dela marearam, os dele brilharam. Ela permaneceu muda. Típico de seu perfil, o rapaz aproveitou a situação para descontrair com uma piada (até para expurgar o próprio nervosismo):

- OK, já que com um brinco você não consegue se decidir, tem outro aqui também. - e repetiu o movimento de mexer na sacola e voltar com a mão ocupada.

- Rê! - exclamou Alice, claramente surpresa. Abrandou o tom e continuou. - Acho que era uma questão de tempo, mas você não se segura, não é? É claro que quero!

E eles se beijaram apaixonados. Em sua cabeça, todas as pessoas ao redor bateram palmas de pé, confete caia do teto, assobios, celebração. Na prática, ao afastar os lábios, viu que só um garçom reparara na cena e desviara o olhar assim que fora notado.

- Que bom que você disse sim, porque aí ganha chocolate também! - e o piadista entregou a caixa de bombons.

O resto do dia foi de abraços de braços e de bocas, carinhos e até um "Amo você!" que Renato deixou sair com gosto de ternura. Os dois dormiram juntos na casa dele naquela noite fria que nem foi sentida, seja pelos corações quentes, seja pelos corpos em movimento, seja pela conchinha na hora do sono.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Rugby e véspera de aniversário (17/10/2015)

O casal acordou no motel e arrumou tempo para namorar mais um pouco. Eles ainda estavam com espólios dos compromissos de desnamorados para resolverem e nesse bolo Alice tinha uma tatuagem agendada com as amigas para a hora do almoço. Somente as três iriam. Depois ela ainda iria se arrumar para a balada de aniversário de Gabriela, sua melhor amiga (elas se conhecem desde o jardim de infância, moram a cinco minutos de carro de distância entre si e até dividem uma tatuagem de amizade; a de hoje é a segunda). Nesta, Renato também estava de fora.

Sumariamente excluído do sábado dela por força dos acontecimentos, ele decidiu tirar o dia para o rugby. A Copa do Mundo do esporte estava em sua fase eliminatória e dois jogos ocorreriam naquele dia, um deles de sua seleção favorita, a Nova Zelândia. O Outback era a escolha óbvia para sediar o evento e, assim que saiu do motel e deixou Alice em casa, o rapaz foi até a casa de sua mãe buscar a companhia de Paloma e Thiago para seu almoço esportivo.

A notícia de que o jogo do almoço não seria televisionado o pegou de surpresa, pelo que eles trocaram o restaurante australiano pelo America e um steak suculento. Esses três juntos são garantia de boas risadas e muita nonsense concentrada, e por algumas horas Renato até esqueceu que não veria Alice naquele dia.

Encerrada a refeição, o rapaz deixou a irmã e o cunhado de volta na casa da mãe e regressou para a rua atrás de rugby. O segundo jogo seria sim transmitido e ele voltou ao Outback para assisti-lo na companhia de seus amigos da faculdade via Whatsapp - na escola de engenharia em que estudaram, a modalidade é bastante tradicional e todos acabaram tomando gosto por ela. Paralelamente, ele recebeu fotos de Alice e suas tatuagens finalizadas (além da de amizade, ela fez a assinatura da falecida mãe em seu pé) e conversou com a namorada pelo aplicativo antes de ela ir tirar um cochilo em algum momento do segundo tempo da partida.

Sábado, fim de tarde, véspera de aniversário de Renato e ele não fazia ideia do que faria para celebrar. Tentou agitar balada mas ninguém se animou, entre pessoas sem dinheiro e sem ânimo. Não havia nenhum evento do UFC agendado para aquela noite, outra paixão esportiva que tem. Estava sem companhia para assistir um bom filme. Nenhuma alma que quisesse dividir uma mesa de bar para ouvi-lo tagarelar.

Com tantas portas fechadas em volta de si, Renato notou-se dentro de um quarto. Fez o que qualquer um faz no tédio, sozinho e em um quarto: dormiu não eram nem oito da noite, com o humor em tom de melancolia. Acordou algumas horas depois com sua irmã o convidando para um lanche, pelo que comeu, confraternizou e voltou para a derrota da cama.