A vida de Renato, contada quase diariamente por seu biógrafo favorito

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Alice e seu estômago (28/10/2015)

Depois de uma segunda e uma terça de stress, nada mais justo do que uma quarta-feira para relaxar. Esse foi o pensamento de Renato no momento em que pisou no escritório. Ligou seu computador e tratou de colocar as leituras e as conversas em dia. Conversou com Laura o tempo todo, aproveitando do fato de ela estar sentada à mesa ao lado, bem como com Andressa pelo comunicador interno da empresa, e com todos os que conhecia via Whatsapp. Entre um bate-papo e outro, verbal ou pelo teclados, corria o olho por notícias do jornal que assina e por artigos de seus sites favoritos. Não havia nem aberto o e-mail corporativo e já eram quase 11 horas da manhã.

Entre a meia dúzia de frentes de conversa que tinha aberto, é natural que houvesse uma com Alice. Por ser dentista e não poder parar os trabalhos um segundo para mexer no celular, a troca de mensagens era mais truncada, com grupos de textos enviados pelo rapaz que aguardavam resposta dela dali meia ou uma hora, dependendo do fluxo de pacientes dela.

Em um desses blocos de resposta, Alice reclamou da dor no estômago que sentia, semelhante em sintoma e pior em intensidade que aquela que sentira na noite de sexta para sábado e durante o próprio sábado inteiro. No bloco seguinte, o susto: "Re, estou indo para o hospital, o pai da Gabi vai nos levar. Por uma coincidência infeliz, ela também está com dor no estômago...".

Renato ficou tenso, apesar de ter tentado não demonstrar. A mãe de Alice havia morrido de câncer de pâncreas há pouco menos de um ano, depois de uma luta de 30 meses. A própria Alice já havia feito uma cirurgia em fevereiro para retirar a vesícula, por orientação médica. Gabriela, pra completar o cenário, também não tinha a vesícula mais, além de ter feito cirurgia de redução de estômago há dois anos.

Tentando demonstrar calma, o rapaz procurou manter contato com a namorada o tempo todo. Acompanhou quando ela disse que iria tomar um litro de soro com medicação para dor; aliás, recebeu uma foto das duas, ela e a amiga, sentadas com agulha no braço e tubo cheio de líquido saindo dali. A ansiedade bateu de verdade quando ela disse que a médica pediu uma tomografia "pra ver se está tudo bem com a cirurgia". Como um bom leigo no assunto, a sensação é que, quanto mais o doutor quer bisbilhotar, maior o índice de "fodeu" que a situação potencialmente tem.

No fim das contas, o exame não mostrou nada de anormal. Por segurança, foi reforçado que a moça deveria fazer uma endoscopia o mais breve possível. Alice foi liberada e seguiu para casa descansar, pelo que Renato prometeu uma visita à casa dela mais tarde, após o expediente. A amiga não teve a mesma sorte e saiu de lá com o diagnóstico de infecção intestinal, uma lista de restrição alimentar e uma data agendada para retorno com um gastroenterologista.

Renato ainda produziu uma coisa ou outra no trabalho e saiu junto com Laura, para conversarem na caminhada pelo trecho em comum que dividiriam na rua. Seguiu até em casa para pegar seu carro e ainda enfrentou 40 minutos de trânsito antes de ver Alice pessoalmente.

Ao contrário do que temia, Alice estava sorridente e emanava alegria. De fato, seja por saudade ou por más memórias, o rapaz a vinha sentindo mais amorosa nesta nova fase do relacionamento, mas a manutenção disso só o tempo irá dizer. Notável registrar também que foi a primeira vez que Renato reviu o senhor Eustachio, pai de Alice, desde quando terminaram o namoro. Cumprimentaram-se formalmente apenas.

O casal ficou sentado na cama dela, ele encostado na cabeceira e ela aconchegada em seu corpo. Conversaram sobre nada, além de falarem brevemente sobre o dia, até ela adormecer ao som da novela que passava na TV sem receber atenção. Renato sorriu satisfeito.