O celular despertou de madrugada porque ambos teriam que sair mais cedo que o de costume. Renato iria trabalhar no interior hoje e Alice voltaria para Guarulhos também para trabalhar. O casal recém-renamorado pisava em nuvens e conversava contente enquanto se arrumava para deixar aquele pequeno apartamento no centro.
Depois da avenida principal, cada um foi para um canto em seu próprio carro e duas horas depois o rapaz chegou no escritório. Encontrou Andressa, que não via desde antes de viajar para Israel, e já pediu a ela que eles saíssem para almoçar juntos.
A vida corporativa dele estava um caos, entre o abandono e a negligência, pelo que Renato tratou de arregaçar as mangas para ordená-la. Gastou toda a manhã só se planejando, tantos eram os assuntos pendentes, que até foi comer mais tarde que o de costume.
Ele e sua amiga seguiram de moto (ah, aquela sensação de andar de moto!) até um restaurante mais reservado e o rapaz começou a falar:
- Há um mês mais ou menos, mandei mensagens para Alice e fui ignorado, depois repelido da vida dela a pedido da própria. Isso eu te contei. O que eu não te contei é que ela, do nada, veio me procurar para conversarmos e os ponteiros começaram a se alinhar. Da última vez em que estive aqui em Santa Bárbara, nós dois ainda não havíamos nos encontrado desde o término e continuei a sair com você, mas com a cabeça longe. Quase três semanas depois, eu estou aqui pra te falar que conversamos, nos acertamos e voltamos a namorar. Não sabia como te dizer isso sem ser pessoalmente, e por isso demorou tanto.
Conforme dizia as palavras, sem perceber Renato foi abaixando a cabeça, como quem se arrepende ou se envergonha de algo. Foi pego de surpresa com a resposta de Andressa.
- Nossa, fico feliz pela consideração que você teve por mim, de verdade. Mas via isso tudo mais como um P.A. do que outra coisa. Sabia desde o começo que não havia futuro, mas sua companhia é tão boa que fui levando. Estou contente que deu tudo certo!
Só ele ouviu o estrondo que o peso que havia em suas costas fez ao sair dali e cair no chão. Até sua postura melhorou, sentado na cadeira do restaurante. Sorriu.
- Desculpa, eu realmente não sabia como agir. Eu me enrolo tanto com essas situações que já perdi boas amizades, e não queria ver o filme se repetir mais uma vez.
- Relaxa. Está tudo bem. - a resposta dela soou bastante verdadeira.
Ainda no meio do prato, ele levantou-se e deu um abraço forte nela. Andressa retribuiu e trouxe o tom neutro da amizade de volta para a mesa:
- Tá, agora me conta o que eu perdi dessa história toda.
Um almoço foi pouco para Renato, pelo que ele continuou tarde afora via comunicador interno da empresa, alternando entre pôr as coisas nos eixos e digitar loucamente tudo o que estava guardado a tanto tempo de uma confidente.
Andressa se foi em seu horário regular de expediente e ele ficou até mais tarde, repondo as horas não trabalhadas de Israel. Seguiu para o apartamento-república em que dormia após ir ao mercado e comprar algumas coisas para passar a semana. Deitou-se só e leve. Dormiu sem sonhos.