A vida de Renato, contada quase diariamente por seu biógrafo favorito

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Chá bar de dia, UFC à noite (07/11/2015)

O interfone despertou o casal pouco depois das nove da manhã. Era a entrega da cômoda comprada por Renato nas Casas Bahia dias antes. Ele vestiu-se rapidamente com o que viu pela frente e desceu para receber o móvel. O entregador até foi rápido em trazer as três pesadas caixas da portaria até o interior do apartamento, mas não o suficiente para preservar o sono no rapaz.

Depois que o funcionário do magazine foi embora, Renato tomou um copo d'água e foi entediado acordar Alice. Entre despertar, namorar e tomar uma ducha, deu a hora de irem para o Chá Bar de um casamento em que ele irá ser padrinho. A noiva, amiga de sua irmã, chamou nosso protagonista para ser par de Paloma no altar em reconhecimento pelo que ele fez no começo da juventude delas, levando-as em festas, buscando-as em formaturas, acobertando pequenas mentiras e até as salvando de embaraços. Sua namorada foi ao evento com ele, a seu convite.

Chegando no salão de festas do apartamento dos noivos, a agitação mal tinha começado. A exceção da família próxima, apenas Paloma e mais duas amigas da noiva estavam presentes. Nem por isso tardou-se em iniciarem os trabalhos etílicos. Como se preza em um bom Chá Bar, os convidados trazem utensílios para a casa nova e, em troca, recebem uma comemoração com comida abundante e cerveja à vontade. Renato se absteve de beber, fora a primeira latinha que tomou para brindar, e acompanhou a evolução da embriaguez das pessoas ao seu redor.

Conforme o tempo passava, mais pessoas chegavam e mais latinhas vazias povoavam a mesa do grupo. Entre as conversas, papos sobre morar junto e organização das despedidas de solteiro foram os assuntos dominantes. A histeria feminina com a celebração do fim da solteirice da amiga particularmente trazia gritos e risadas agudas a toda hora pra preencher o salão, que já estava bastante movimentado. Renato começou a se sentir incomodado com a situação, principalmente por conta do volume de cerveja que já tinha sido ingerido por Alice e por Paloma. Captou uma frequência estranha, mas não pode antecipar o que veio em seguida.

Em um lapso, Paloma quis chamar Alice para contar algo e falou em alto e bom tom:

- Carla! Ô, Carla! - e tocou o braço da moça para confirmar que falava com ela.

Como já sabemos, Carla é o nome da ex-namorada de Renato, com quem Paloma ainda mantém contato, assim como o irmão, e de quem Alice tem especial ciúme. O olhar fuzilante da namorada do rapaz para sua irmã arrancou um "Ai, errei! Desculpa!" instantâneo da moça e provocou sua saída voluntária da mesa: "Vou ao banheiro!". O clima do grupo acabou, apesar de que a festa ainda tinha lenha para queimar. Em menos de meia hora, os três se despediram e partiram, apesar dos protestos de Paloma, que insistia que queria ficar mais. Foi preciso um pouco de falta de polidez por parte do irmão para convencer a moça já em estado alterado de consciência que eles iriam imediatamente.

O silêncio dominou o carro no retorno da festa. Nem o rádio foi ligado para preencher o vácuo asfixiante que dividia o interior do veículo com os três ocupantes.

O próximo evento marcado seria irem assistir na casa de Elza o card do UFC que ocorreria naquela noite, mas não havia clima. Alice não queria sequer olhar na cara da irmã de Renato e preferiu ir para casa. Ciente de que Paloma dormiria assim que subisse ao apartamento, o rapaz abriu mão de assistir seu esporte favorito na TV e foi para Guarulhos com sua namorada.

Lá, assistiram um pouco de televisão para dissipar as cinzas depositadas no peito de Alice pela raiva de mais cedo. Pela madrugada a fora, por uma boa ideia de Renato que também saiu pela culatra, foram lavar as roupas do rapaz, atividade que seria realizada na casa da mãe durante o evento esportivo. Tecnicamente, nenhum dos dois lavariam roupa: ele separou as roupas por cor e as colocou na máquina, enquanto Alice lhe fazia companhia. Depois, foi estender a lavada e colocar a próxima leva no eletrodoméstico, também sob a supervisão da namorada. Tudo ficou pronto só às duas da madrugada, entre risos e beliscos carinhosos entre os dois. Foi preciso bancar a dona-de-casa depois da meia-noite para que Alice respirasse leve novamente. Muito provavelmente ela não relevou o ocorrido, apenas se dispôs a colocar no fundo de uma gaveta funda por ora.