A vida de Renato, contada quase diariamente por seu biógrafo favorito

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Brasília (25/11/2015)

O celular despertou pouco depois das sete da manhã. Alice parecia bastante atenciosa, mais do que o de costume, ou a cabeça ainda inconformada de Renato queria crer que ela tentava se redimir pelo ato de condenar a ida do rapaz ao festival de música eletrônica. A moça foi se arrumar antes dele, já que este faria home-office até o horário do voo para a capital do país e poderia enrolar um pouco mais na cama.

Ele se levantou quando a namorada foi se despedir. Ela saiu pela porta e Renato entrou no chuveiro. Depois de um tempo, já trocado e com o café-da-manhã sempre bem servido daquela casa, abriu o notebook e começou a trabalhar. Ainda pela manhã, o celular vibrou e trouxe a mensagem de Alice: "Muito bom acordar e ter vc do meu lado ou no quarto ao lado...".

O impacto foi ambíguo. Por um lado, era incomum ela falar coisas românticas de forma espontânea. Contudo, ainda pairava sobre o rapaz a sombra da discussão do dia anterior sobre ir ou não ao tal festival, enquanto ela iria para o interior e ele nem a questionara uma vírgula sobre o que ela faria e com quem estaria. Ruminou mais um pouco o ranço todo e voltou a engolir. Ainda não seria ali o momento da digestão.

Poucos minutos depois do meio-dia, Alice entrou de volta pela porta principal e cumprimentou a todos. Viera para almoçarem juntos. Como sempre, a habilidosa empregada já os aguardava com uma comida vistosa, cheirosa e saborosa. O casal almoçou e Renato preparou-se para sair. Para evitar o erro da última vez, ele tomou o táxi com bastante antecedência. Chegou no aeroporto, tomou um suco e aguardou sua hora de embarcar.

O voo foi tranquilo e já se aproximando, observando a arquitetura e a urbanização de Brasília, veio-lhe à mente aquele trecho de Faroeste Caboclo: "Meu Deus, mais que cidade linda!". Tudo era maravilhoso de cima e se provou tão ou mais surpreendente de baixo, olhando-a de dentro do táxi. Poucos semáforos, avenidas largas, uma sensação de que todo o concreto brotara ali no cerrado como árvores majestosas a requerer seu espaço de direito no campo visual.

Infelizmente, para sua frustração, ele teria que ir direto à conferência a que fora atender e não teria tempo para turismo. Prometeu-se, entretanto, voltar ali o mais breve possível para se deliciar com o que tinha tocado com os olhos.

O evento em si foi entediante. Renato passou o tempo todo lendo jornal ou matérias de portais de seu interesse enquanto velhos burocratas falavam frases prontas e de efeito no palco. Nada de útil, nada de novidade. A tortura intelectual acabou por volta das oito da noite, pelo que ele foi direto ao hotel e ficou por lá, assistindo lutas no notebook até o sono vir e o encaminhar para a cama.