A vida de Renato, contada quase diariamente por seu biógrafo favorito

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Dia de azar (11/11/2015)

O mau auspício inicial foi o fato de ter pedido o horário para se levantar. Mesmo com o despertador, Renato estava 15 minutos atrasados de partida, por insistir em pressionar "soneca". Correu para se arrumar e logo desceu à rua do condomínio de Alice para conseguir um táxi para o aeroporto.

O trânsito na avenida estava totalmente travado, denunciando que o resto da cidade poderia estar igual ou pior. Pelo aplicativo do celular, o primeiro taxista que ele conseguiu acionar demorou 15 minutos para andar quatro quadras e obrigou o rapaz a desistir da corrida. Tentou novamente e conseguiu um mais próximo, que errou o caminho e precisou ser corrigido por Renato, que ligou para ele informando a localização correta. Detalhe: o aplicativo mostra a localização exata de quem está esperando o táxi, mas o motorista preferiu seguir a referência de localização (o nome do condomínio) ao invés do endereço. "Pensei que esse condomínio era aquele outro...", ele se desculpou quando o passageiro entrou no carro.

Já estava na cara que não daria tempo para pegar o voo. Ainda assim, Renato se agarrou a uma esperança vã e tentou relaxar no caminho. Já no destino, dirigiu-se ao balcão de despacho e ouviu a confirmação do inevitável. Ele perdera o voo mesmo. Pagou pouco mais de 200 reais para pegar o próximo, que saía dali uma hora, e foi tomar um café da manhã digno, negligenciado quando saiu da casa da namorada achando que essa economia de tempo seria suficiente para cobrir o próprio atraso.

A viagem, ao menos, foi tranquila. Pela primeira vez Renato conseguiu viajar nas poltronas da frente da aeronave porque a companhia aérea liberou o local para check-in mesmo para quem não pagasse a mais pelo espaço extra para as penas. Desembarcou no aeroporto de Santos Dumont, esperando que o taxista contratado para levá-lo à Região dos Lagos o esperasse com aquela plaquinha com seu nome no desembarque. Aí está uma cena ridícula, mas que Renato gostaria de protagonizar ao menos uma vez: as portas automáticas se abrirem e um cidadão com cara de perdido e uma placa com seu nome ficar procurando entre os rostos uma confirmação.

Bom, de qualquer forma, não foi isso o que aconteceu. O rapaz saiu e caçou o motorista com os olhos à exaustão. Tentou ligar e ninguém atendeu. Mandou mensagem por celular e não recebeu resposta. Mais uma vez o azar gargalhava em sua cara. Foram necessárias oito tentativas de contato e a triangulação com o escritório de Cabo Frio para achar o cidadão. "Eu estava te esperando no embarque, porque lá é mais vazio", foi o que ele ouviu do taxista como desculpa, como se lá fosse um lugar evidente para procurar uma pessoa ao desembarcar do avião.

Uma vez dentro do carro, Renato tratou de relaxar e a viagem transcorreu tranquila. Os dois foram conversando durante todo o trajeto de pouco mais de duas horas de estrada. Ao chegar, já na hora do almoço, o rapaz se viu duas horas atrasado. Já sentiu que teria que repor esse tempo trabalhando até mais tarde, possibilidade que o cansaço de seu corpo praguejou junto com sua boca.

Aproveitando a saída da equipe para comer, Renato juntou-se ao engenheiro que o auxiliaria no trabalho quando este saiu atrás de um restaurante. Na volta, em menos tempo do que a uma hora regulamentar que têm para preencher o estômago, ambos foram recepcionados com a notícia de que os arquivos necessários para o projeto não poderiam ser acessados. A rede estava fora do ar. O azar, sentado em seu trono de veludo, girava sua taça de vinho cor de sangue e abria um sorriso de escárnio.

Os sinal voltou por volta das quatro da tarde. Daí até as oito, Renato tratou de voar com o serviço, mal parando para comer ou ir ao banheiro. Estava com extrema dor de cabeça quando decidiu partir e relaxar no hotel. Lá, depois de um certo trabalho para pegar um táxi, deixou suas coisas e foi se atualizar sobre o mundo e sobre suas redes sociais quando o telefone do quarto em que estava tocou. "Senhor, apenas para informar que estamos sem WiFi. Já foi solicitado um técnico, mas ele só virá amanhã." O jeito foi usar o péssimo sinal 3G que o celular conseguia captar...

Quando já cochilava sobre a tela do telefone, decidiu tomar um banho para dormir. Entrou no banheiro e notou que não havia janelas. Foi a cereja do bolo amargo que o azar ofereceu de sobremesa ao fim do dia. O banho foi curto dentro do banheiro com cheiro forte de umidade velha. Curto também foi o tempo que Renato demorou para dormir em definitivo, de tão cansado e indignado que estava.