A vida de Renato, contada quase diariamente por seu biógrafo favorito

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Um dia em função da cômoda nova (30/11/2015)

O celular despertou e foi sumariamente ignorado por Renato. Foi preciso que Alice viesse ao quarto em que ele estava para tirá-lo da letargia do estado "não acordado, não dormindo". Cabe ressaltar que, esta noite, como Eustachio estava na casa também, o namorado dormiu no quarto de visitas.

Renato só botou a roupa no corpo e saiu em menos de dez minutos, já que estava com o tempo contado para atravessar a cidade e chegar na sua casa a tempo de receber o montador do móvel que comprou. Ah sim, é a cômoda que foi comprada há mais de um mês, mas a loja conseguiu criar uma burocracia tremenda para agendar a montagem e calhou que o rapaz aceitou perder a manhã de uma segunda para que isso fosse finalmente feito.

Com o trânsito natural da metrópole, foi necessário quase uma centena de minutos para que ele percorresse o trecho que faz em 25 minutos com o tráfego livre. Mais sortudo do que prudente, ele chegou apenas cinco minutos antes do funcionário da loja.

O trabalhador pequeno e franzino, de sotaque nordestino acentuado, foi bastante ágil. Parecia ter o manual de montagem da cômoda gravado na cabeça, pelo que separava as peças retangulares aparentemente iguais em grupos e as fazia encaixar com parafusos e pregos sem apresentar dificuldade. Enquanto isso, Renato lia o jornal do dia que recebe por e-mail.

A leitura do periódico acabou antes do serviço do montador, e Renato passou a observá-lo finalizar o trabalho. Ele encaixou e testou as gavetas, acertou a porta de correr frontal e verificou a estabilidade do conjunto de um jeito bem peculiar: sacudindo a peça montada com força. De pronto, Renato visualizou em sua mente aquilo tudo ruindo e quebrando em estalos, mas não foi o que aconteceu. Apesar de um custo baixo, a cômoda montada estava firme e estável. Como quem pede aprovação, o funcionário do magazine olhou para o rapaz e sorriu sincero. "Pronto, doutor!".

Já passava das dez da manhã quando Renato serviu uma água a ele e o dispensou, faltando ainda se arrumar para ir trabalhar. Tomou seu banho matinal diário, vestiu roupa social e caminhou despreocupado pela rua, sem aparentar ter deixado toda a manhã de trabalho atrasar. Para ajudar, o sistema de carregamento automático do cartão de passagens de ônibus estava quebrado, pelo que ele ainda teve que retornar e passar no banco para sacar dinheiro e pagar a passagem com cédulas.

Assim que chegou no térreo do escritório, Laura o aguardava para almoçar. Foram no self-service de sempre comer a comida de sempre e reclamar da vida de sempre. Na volta, Renato dedicou-se ao que ainda dava para fazer com o tempo que lhe restava do dia útil e se desligou do mundo.

Foi para casa ao fim do dia bem leve, ouvindo podcast pela rua. Chegou em casa e deixou a leveza do lado de fora: tinha se esquecido que toda a bagunça da montagem do móvel fora deixada para trás. Caixas de papelão, isopor, sacos plásticos, além da poeira natural do móvel recém-desembalado. Pôs uma música animada para tocar e vestiu a fantasia mental de dona-de-casa pra tomar coragem para a arrumação.

Realmente a estratégia deu certo. Além de organizar a zona que ficou para trás, resolveu preencher o móvel novo com suas roupas que estavam esmagadas no armário, além de colocar a televisão e o PlayStation sobre ele, lugar definitivo desses eletrônicos. Terminou tudo era quase uma hora da madrugada, quando tomou um copo de suco e largou o corpo cansado sobre a cama para dormir.