A vida de Renato, contada quase diariamente por seu biógrafo favorito

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Ciúme vai, ciúme vem (26/11/2015)

A noite de sono foi péssima. Apesar do excelente hotel, Renato dormiu com o medo permanente de perder o voo. Isso implicou em ter acordado várias vezes durante as cinco horas que tinha pra de fato descansar, o que o deixou com sono durante boa parte do dia. Ele saiu tão cedo do hotel que nem o café da manhã havia sido servido ainda. Tomou-o no aeroporto, enquanto aguardava chamarem seu embarque.

Chegou em São Paulo e foi buscar seu carro na casa de Alice. Ela não estava lá, mas deixou liberada na portaria sua entrada. Dali, rumou para seu apartamento, deixou o carro e seguiu para o escritório para, aí sim, trabalhar. Todo esse processo o fez chegar no destino final próximo da hora do almoço.

"Vai almoçar onde?" apitou uma mensagem no celular de Renato. Era Laura buscando companhia para comer. "Aí", respondeu sucinto, prestes a entrar no edifício comercial sede da empresa. Combinaram irem à praça de alimentação do shopping, já que a moça precisava comprar presente de Natal para uma criança "adotada" por ela no Natal, através de uma entidade de assistência a menores abandonados.

Ele hambúrguer gourmet, ela estrogonofe. Depois, uma mochila cor-de-rosa e uma Barbie. Em menos de uma hora e meia estavam de volta para trabalhar, na cabeça de Renato um recorde para uma mulher visitar um shopping. Na verdade, até pra ele mesmo.

À tarde, descobriu que teria "trabalho surpresa" para entregar ainda hoje, o que provavelmente o faria permanecer bem além do horário regular do expediente. Quando buscou o celular para contar a má notícia a Alice, topou com uma mensagem dela: "Minha cunhada surtou!".

Evidentemente sem entender o que acontecia, o rapaz se assustou. Poderia ser uma forma de se expressar, uma gíria, ou talvez a mulher tivesse de fato entrado em uma crise esquizofrênica inesperada e inédita. A criatividade dele, tão conhecida pelas pessoas próximas a si, permitia tratar esses devaneios com certa seriedade, pelo que Renato tratou de pedir maiores explicações.

Antes de dizer a resposta da namorada, sigo com um breve relato. Em 2009, Eustachio Júnior (chamarei-o apenas de Júnior, como todos fazem) e sua atual esposa estavam separados, depois de terem namorado por um tempo (sim, as histórias são ridiculamente repetitivas). Alice estava no último ano da faculdade e convidou o irmão para ir a uma festa universitária na cidade em que estudava, pelo que foi prontamente atendida. Nessa festa, ele beijou uma amiga da irmã e ficou com ela o fim de semana inteiro, mesmo sob protestos de Alice. Depois do ocorrido, o casal efêmero nunca mais se falou.

Apesar disso, a atual esposa de Júnior soube do ocorrido, mas não se pronunciou por não ter nenhuma relação com ele à época. Quando retomaram o namoro, que veio a se tornar o casamento atual, ela comentou com o futuro marido que sabia com quem ele tinha saído no período de separação.

Voltando aos dias de hoje, entre duas e três semanas atrás, Alice foi encontrar a tal da moça, que não via havia quatro anos. Ela postou uma foto do encontro nas redes sociais, que foi vista pela cunhada nesta manhã. Instantaneamente, esta passou a derramar ofensas e agressões verbais em Alice pelo Whatsapp, sem fazer questão de ouvir o outro lado. Chamou-a de mentirosa, falsa, traiçoeira e coisas piores, desnecessárias de serem reproduzidas. Apesar de ter aguentado por um tempo, a namorada de Renato passou a revidar quando sua (pouca) paciência se esgotou. O clima ficou péssimo!

Nosso protagonista chamou Alice para ir a sua casa ao fim do dia, para poder dar algum tipo de suporte a ela. A moça aceitou e marcaram de se falar assim que ele saísse do escritório.

Conseguiu se desvencilhar dos principais afazeres diárias só às oito e meia da noite, mas manteve o plano. O casal se reuniu pouco antes das dez na frente do apartamento dele, e seguiram para a padaria de sempre para comerem e espairecerem.

Alice roía as unhas nervosamente. Alternava a manutenção de trocas de mensagens (grosserias?) com a cunhada com goles da cerveja que pediu, única coisa que ingeriu desde a tarde, e até o fim do dia. Renato buscava de todo jeito distraí-la ou fazê-la expulsar de uma vez o que a incomodava, mas não conseguiu. A namorada ficava longos períodos em silêncio, olhando para o infinito sem se expressar. Via o celular vibrar, pegava o aparelho na mão, digitava mais um pouco, jogava-o sobre a mesa irritada e voltada a ficar em silêncio. Às vezes, soltava algo como "Ela é louca!", "Ah, me ajuda!", "Foda... Foda...". Contudo, a frase que ficou realmente registrada por Renato foi "Sabe o que eu acho? Que ela é insegura em relação ao meu irmão, ferve de ciúme e arrumou uma válvula de escape. Sobrou pra mim!".

Ele aquiesceu silencioso, refletindo sobre o quanto isso se aplicava ao seu próprio relacionamento. Depois disso, entrou em modo reflexivo também e o casal foi pro apartamento de Renato quase que em silêncio absoluto. Dormiram só desejando um sincero "Boa noite, namorado!" e "Boa noite, florzinha!" um ao outro.